terça-feira, 2 de janeiro de 2007

O Natal e a civilização

Não é apenas um menino que nasce na manjedoura em Belém, no Natal. Toda a civilização que hoje se chama de ocidental surge lá naquela gruta, onde Maria deu à luz a Jesus.
A civilização ocidental ou moderna, que por mais que queira, não deixa de ser fortemente cristã, se esboça primeiramente no século VI a.C., onde os filósofos como Sócrates e Platão, sucedido por Aristóteles, buscavam a verdade objetiva, para-além dos mitos, verdade que batizaram de Logos ou Ratio, razão. Todo esse movimento deu origem à filosofia, que significa amor à sabedoria, ou à verdade. Isso propiciaria uma primeira globalização, primeira unidade realizada por Alexandre Magno, realizada pelo grande sincretismo entre o helenismo e o orientalismo, e depois com a cultura romana. Tal sincretismo gerou uma síntese única e um intercâmbio entre povos, culturas, idéias, escolas filosóficas e religiões, num universalismo de causar inveja aos iluminados da Ilustração. Não é à toa que o apóstolo Paulo, culto, chama a este de "a plenitude dos tempos" (cf. Gl 4,4). E de repente, no meio deste gigantesco sincretismo, e de uma forma inesperada, nasce um menino. Um menino como todos os outros, mas que vai revolucionar este mundo pouco tempo depois. De fato, isto é um evento, um acontecimento, um menino que nasce. E o apóstolo João vai dizer que "o Logos se fez carne" (cf. Jo 1,14). Para os cristãos, a fé é exatamente um acontecimento: um menino que nasce. Antes de ser uma doutrina, ou um conjunto de normas e regras morais e ascéticas, o cristianismo é um anúncio deste evento: que o Logos dos filósofos, a Ratio, a Verdade se tornou carne, e nasceu. E conseqüências inauditas e inesperadas advêm deste fato. Surpreendentemente, 50 anos após a morte de Cristo na Cruz, todo o Império Romano estava tomado de comunidades cristãs, que eram violentamente perseguidas. Menos de 300 anos após a morte de Cristo, o cristianismo se tornou aceito e em 391 d.C. foi proclamado como a religião oficial do Império. Em 476 d.C. o Império caiu, e os cristãos ficaram. E mais: como a única instituição de pé. A Igreja salvou a civilização, várias vezes, não apenas contra os bárbaros, mas contra o Islã na batalha de Poitiers (732 d.C.) e na Guerra de Reconquista (732 d.C.- 1492 d.C.), origem da Espanha, Portugal e de certo modo, da América Latina, enquanto cultura e civilização. Mesmo os desenrolares posteriores do Ocidente sempre estiveram em relação com o cristianismo e com a Igreja. Sempre a favor, ou contra. O fato é que a civilização ocidental ou moderna não consegue se desvencilhar daquele menino que nasceu na gruta de Belém, ora aderindo amorosamente ao anúncio do seu evento, ora perseguindo-o violentamente nas pessoas dos seus seguidores. O menino que plasmou e moldou a nossa civilização.

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