quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Sobre as nossas contradições

Por mais que não queira, tenho que admitir: sou um pós-moderno. E uma contradição. Machado diz que a essência do homem é a contradição. Mas por que digo isso? Há duas postagens disse que era "inatual". E sou mesmo. Em 14 de novembro passado fui chamado de "careta" porque disse que ia ler Os Sofrimentos do Jovem Werther, enquanto dizia que uma maluqueira moderna não valia minha perda de tempo. Ao mesmo tempo, estou aqui ouvindo Pitty, com a página do orkut aberta e lendo meus e-mails. Coisas típicas do homem pós-moderno. Mas as contradições não param por aí. À uma hora da tarde de ontem estava conversando com amigos marxistas revolucionários e condenando a revolução; já às nove da noite estava defendendo o Programa Bolsa Família contra a direita raivosa anti-PT. Condeno ao mesmo tempo as pretensões totalitárias de Chávez, a imbecilidade de Evo Morales (ou será Imorales por ter assaltado o Brasil?) e a debilidade mental do presidente dos Estados Unidos George W. Bush... contradições nossas de cada dia que fazem parte do nosso mundo. E devemos aceitá-las, porque senão caímos num erro antigo: o maniqueísmo, combatido de forma tão veemente por Santo Agostinho. De fato, o maniqueísmo representa uma grande tentação do pensamento humano: a racionalização do Mal, a divisão do mundo entre bonzinhos e mauzinhos. A esquerda e a direita adoram fazer isso, satanizarem uns aos outros, pelo simples gosto de se sentirem cada uma, a boa, a bela e o que há de melhor. Esta é a receita para o totalitarismo, a perseguição, o massacre e a morte, em nome do bom, do belo e do que há de melhor. Em nome do bom, do belo e do que há de melhor, a Inquisição cristã matou 300 mil pessoas em 300 anos, a 2ª Guerra Mundial 58 milhões de pessoas em 6 anos, e o comunismo, 100 milhões de pessoas em 70 anos, sendo 70 milhões somente na China, e o lobby abortista mata inumeráveis não-nascidos na atualidade. Por isso, o escritor Gustavo Corção disse que é uma estupidez tanto ser comunista como anti-comunista. Não há muita diferença entre as diametralmente opostas posições. Ambos o fazem em nome do bom, do belo e do que há de melhor, e no auge de suas posições, matariam em nome desse mesmo bom, belo e o que há de melhor. Isso se chama "ideologia". Contra ela, a melhor posição é omandamento do Logos que se fez carne no Natal: "Amai ao próximo como a ti mesmo". É arriscar no contragolpe da contradição do real. É a vitória contra a loucura e a ideologia; é o amor ao real e a sabedoria.

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