domingo, 14 de janeiro de 2007

Um preconceito positivista

Nada como os leitores... são tão importantes que Machado se propõe a dialogar com eles. Bem, um comentário de um leitor me instiga, aqui da Cidade Maravilhosa a escrever este texto. Eu gostaria de falar sobre o preconceito positivista acerca da religião. Auguste Comte, fundador do positivismo dizia que a evolução do espírito humano se deu em 3 níveis: mágico-religioso, metafísico e positivo, que corresponderiam à infância, adolescência e adultez. O nível de incompreensão acerca do significado do termo evolução e sua confusão com o termo desenvolvimento é algo que foge ao propósito deste texto. O que ocorre no espírito humano é desenvolvimento, não evolução. É um desconhecimento tremendo da teoria evolucionista que ocasiona tão grande confusão. É um preconceito monumental e eurocêntrico a idéia de que os povos religiosos são primitivos ou que estão na infância do espírito. É fruto de uma Europa que disse um grande "não" a si mesma, pois a Europa, tal como existe hoje, é fruto do cristianismo. Basta ter olhos para ver. A presença e influência do cristianismo é monumental. Este preconceito é fruto de uma birra adolescente, fruto do fundamentalismo laico, que busca colocar a religiosidade como algo irracional, fruto do primitivismo e da "infância do espírito". Pelo contrário, a religiosidade é estrutural, inerente ao espírito humano. Um forte espírito anti-clerical, uma grandiosa pretensão da razão iluminista fez Comte, Marx e Freud rejeitarem a natural religiosidade do humano. Até mesmo um vigoroso combatente do cristianismo, Nietzsche, afirmava uma religiosidade, mesmo que não-cristã. O poeta T.S. Eliot intuiu isso quando escreveu nos Coros de A Rocha: "Onde não existem templos, não existem moradas". O próprio Comte se contradisse em vida quando fundou em vida a "religião da humanidade", uma paródia clara do catolicismo. Portanto, a religião não é ideologia. É um fato, é natural, é estrutural ao espírito. E quanto ao cristianismo, fazendo uma análise rigorosa, não é uma religião, mas é um fato: um homem que se disse ser Deus. Como dizer que o fato mais abundantemente documentável é uma ideologia? Só a presunção de quem não quer ver o que está à sua frente e olhar a própria experiência que vive, pode dizer que a religiosidade é ideologia... puro preconceito!

3 comentários:

Trobadour Solitaire disse...

Inquisição..morte em série, febre de criação de pequenas igrejas e grandes negócios,castelo evangélico em pleno Iguatemi,dinheiro lavado da Renascer.Ideologia?É talvez não.na verdade é um crime mesmo que nos assola há anos.
O homem NÃO precisa de religião para viver.Sejamos menos racionalistas como Comte e saibamos que religão é apenas uma mera válvula de escape para o nosso maior medo que é fim,mas ela é um mal necessária para a maioria.
Preconceito nunca foi,apenas uma opinião crítica acerca do que vejo.Ah, e cuidado para você o samba não cutucar sua cabeça aí na cidade maravilhosa,entendeu?

Unknown disse...

Dimitri parabéns pelo texto..me ajudou a responder questões de antrologia da facul!..
E aliás,discordo completamente de você Alesson..muitos acreditam que religião é para os fracos que precisam se apoiar em algo para prosseguir,mas eu digo (baseada na fé)...que fracos são os que não tem a capacidade de CRER que há algo muito além de tudo que vivemos.

william disse...

jesus!!!!! (irônia ). creio que a resposta à não existência de DEUS está na religião , ela e a resposta para tudo.