sexta-feira, 30 de março de 2007

Papa João Paulo II



Papa João Paulo II

O sino toca anunciando a morte do Papa.
A estátua de Pedro com as chaves na mão é a lembrança em pedra da contínua sucessão apostólica.
Fiéis, monjas, monges, padres, freiras, irmãos, irmãs, a família católica reza o terço. O terço que Sua Santidade pedira a todos que rezassem diariamente pela Paz na Terra.
Por essa Paz viajou o mundo todo, reuniu pessoas de todas as etnias e todas as religiões, abraçou culturas diferentes, beijou o solo, visitou aquele que o tentou matar, pediu perdão por todas as omissões dos Papas anteriores, abriu de par em par as portas para o Ecumenismo, a Inter religiosidade. Chorou a dor do mundo. Orou pela justiça e pela Paz. Deixa saudades, deixa um rastro de luz, de trabalho contínuo e conservador das tradições da Igreja.
É preciso orar com fé transformando a nós mesmos na oração pura, na meditação que nos transforma e assim transforma tudo que é.
Houve vigílias por toda a Terra. Lamparinas e velas. Preces, orações, lágrimas e tristeza acompanhando sua partida.
Queriam sua presença, sua vida, sua mente, sua benevolência, sua inteligência, seus conselhos, suas bênçãos. A sua voz já não é mais ouvida. Sua face em dor, fotografada e por nós sentida, invade nossos olhos e leva à reflexão de que sofrer não é pagar pecado, é parte da vida.
Despediu-se pouco a pouco. Como que nos dando tempo de compreender a morte e dar a ela as boas vindas. Pudemos acompanhar sua Via Crucis, seu martírio e o vimos humano, sofrendo sem esconder a dor. Nem poderia.
Queríamos que morresse tranqüilo, sem sofrer, talvez dormindo, talvez sentado em prece e sua alma subindo ao céu num arco-íris deslumbrante?
No sussurro de seus aposentos particulares só os mais íntimos adentraram. Respeitando o momento sagrado da partida. Resoluções médicas e espirituais, políticas internas e internacionais.
O corpo cansado, que suportou tiros, insultos, viagens, transtornos, doenças, tristezas de ver o mundo revolto, de tanto rezar pelos pobres, excluídos, pela dignidade, pela justiça, pela paz e pela vida, foi se desligando dos problemas, das questões deste mundo e todos fomos acompanhando.
Mãos suaves e macias, de abençoar. Sua face rosada, a coluna que ficou arqueada. Nascimento, velhice, doença e morte, sem rancores.
Penetra Santo Papa na suave tranqüilidade merecida do silêncio de Nirvana.
Quando foi visto em sofrimento há poucos dias, houve quem pedisse o milagre de uma recuperação, sem perceber que sempre esteve são. Sempre esteve em santidade, na pureza da verdade. Limitações, com certeza, todos temos nesta Idade.
Na hora da morte que não é hora é átimo de segundo, abrem-se para nós os mundos resultantes de nossas ações, pensamentos, palavras. Que mundo se abriu, Sua Santidade?
Imaginamos a luz, Jesus, o vindo buscar. Imaginamos sua mãe com ramos a o saudar. Imaginamos a escada dourada que leva aos céus cercada de anjos lindos tocando música suave e doce.
O mundo o acompanha, João Paulo II, agradecendo e chorando. Há os que se lamentem, há os que compreendem, há os que em alegria o recebem no merecido repouso.
Missão cumprida.
E a Santa Sé se prepara para conclaves e escolhas, decisões que não se tomam à toa. Grupos e pensamentos, políticas e estratégias. A Igreja continua. E haverá um novo Papa, a sentar em sua cadeira, a usar o seu cajado, a abençoar da janela e a orar no Vaticano. E mais uma vez nos lembramos que nada pertence ao ser. Tudo passa, tudo surge e desaparece. Nessa transitoriedade há também uma reciprocidade, uma interligação. Nada existe por si só. Intersomos. Na vida e na morte. Sem medo de viver, sem medo de morrer. Instante após instante apenas o Inter Ser - a constante transformação.
Que os Budas e Bodhisatvas, Seres Iluminados e Benfazejos de norte a sul, leste a oeste, sudeste a sudoeste, nordeste a noroeste, de cima e de baixo, do presente, do passado e do futuro o acompanhem nesta jornada para o Grande Nirvana, a Grande Paz.
Que Suas bênçãos sagradas recaiam sobre todos nós e que a Terra se cure para que possamos viver respeitosamente irmanados, compartilhando e cuidando ternamente de cada pequena forma de vida e de todas as diversas maneiras de ser e de pensar, que formam a Vida.
“Na Casa de Buda, vida e morte são os móveis.”
Além da vida e da morte, repousa Santo Papa. Repousa. Com nossa gratidão, respeito e saudades.
Que a Sabedoria Suprema ilumine as mentes dos Cardeais reunidos a portas fechadas para a decisão que beneficiará todos os seres. Mãos em prece.
Monja Coen