domingo, 27 de maio de 2007

Entre o nada e o infinito






Uma coisa vem me preocupando nestes últimos dias. Vim conversando com amigos meus, especialmente na faculdade, e expressei, de uma forma meio irônica, o meu desejo de chegar até o ano 2110. Pode parecer muito, mas estaria eu com 127 anos nesta data, o que não seria impossível, dados os avanços na biologia e na engenharia. Me espantou e muito as reações das pessoas! Cheguei a escutar alguém dizer que queria morrer automaticamente aos 80 anos, tudo com a desculpa de "não querer dar trabalho a ninguém". Outro amigo mais sincero disse "a vida é chata", e "fazemos tudo para matar o tempo". Por trás de tudo isto, está o ódio que inconscientemente temos à vida, e a nós mesmos, ao nosso coração, ao nosso desejo infinito, dado que ele não encontra resposta em nada. Já dizia Nietzsche no livro A gaia ciência: "este pendor para o verdadeiro, para a realidade, para o inaparente, para a certeza: como me dá raiva!" Outra amiga, seguindo Heidegger, dizia "o que dá sentido à nossa vida é justamente a morte", enquanto eu dizia "ninguém quer morrer! É mentira o que se diz! Até o mendigo que cata lixo na rua, o faz para sobreviver!" Mais coerente estava Sartre no seu livro O Ser e o Nada, que ateiamente concluía "a vida é uma paixão inútil, uma nadificação total dos nossos projetos".


Após a série de atentados que aconteceram nos Estados Unidos, na Espanha e na Inglaterra, terroristas islâmicos soltaram uma frase que me arrepiaram "Nós amamos mais a morte do que vocês a vida", e puseram João Paulo 2º de joelhos diante do Santíssimo Sacramento pedindo pelo Ocidente, pedindo pelo Ocidente que está entrando numa cultura da morte, de ódio à vida, enxergando na morte nada mais do que a solução de problemas (daí podemos entender o grande apelo supostamente humanístico da legalização do aborto e da eutanásia, por exemplo). O que está acontecendo é fruto do grande não que o Ocidente vem dando ao homem que se disse ser o caminho, a verdade e a vida, e na tentativa de chegar ao paraíso de forma autônoma e rebelde, desde o Iluminismo. Abandonando-o e de forma paradoxal, voltando-se contra si mesmo (pois o Ocidente nasce com os filósofos gregos, "sementes do Evangelho", segundo Santo Agostinho), o Ocidente não tem escolha, dessa maneira, a não ser o nada, a morte, o niilismo, o absurdo e o non-sense. É como disse o grande poeta Bruno Tolentino: "não há alternativa cultural ao cristianismo". Nosso coração se encontra numa encruzilhada: entre o infinito e o nada. O segredo é a recomendação de Ítalo Calvino: "olhar no inferno o que não é inferno", e estar atento à beleza, como dizia Pasolini: "Mas no deserto de nossos caminhos Ela passa, rompendo o limite finito e enchendo os nossos olhos de desejo infinito". Como disse Dostoiévski: "A Beleza nos salvará". E ainda Bento 16: "ela é promessa de infinito". É ela, a beleza, que nos revela o que verdadeiramente somos: ânsia, tensão, desejo infinito de vida, do belo, do que é bom e melhor, o que uma cultura da morte quer inegavelmente abafar, querendo nos afogar no nada e no desespero. É ela que nos revela nossa aspiração, nosso desejo, e que o nosso destino não é a putrefação horrorosa da morte, mas uma vida cem vezes mais interessante, já aqui mesmo, nesta vida.