domingo, 28 de janeiro de 2007

Simplicidade

Santa Terezinha, morta em 1897, é uma das personalidades mais admiráveis da modernidade. Infelizmente, em relação aos santos, se mistifica muito mais do que qualquer outra coisa, e logo eles perdem a carne e os ossos, e o que é pior: perdemos nós a notícia de que, assim como eles, também nós podemos ser santos.
Tereza de Lisieux não foi santa porque fez prodígios, milagres, ou apareceu, foi santa porque numa época niilista, ousou crer, foi uma revolucionária do seu tempo, e a Igreja hoje a reconhece: proclamou-a doutora da Igreja e co-padroeira das missões, junto com São Francisco Xavier, a ela que nunca saiu do convento. Ela, que queria verter o seu sangue anunciando o Senhor Jesus nas missões mas não pôde, acabou derramando-o numa tuberculose que custou sua vida... Terezinha é uma mulher admirável, e toda esta riqueza de seus vinte e quatro anos de vida pode ser conferida no belíssimo livro que ela deixou para a posteridade: História de uma Alma. Lá, ela fala uma coisa que me tocou muito. Fala citando um dos livros do Antigo Testamento, o Livro da Sabedoria. Lá, a Sabedoria (o Logos Divino, a Ratio, que mais tarde se faria carne na Virgem Maria) diz: "Quem for simples, venha a mim" (cf. Sb 9,4). Eu por muito tempo fui tocado, mas não entendi, eu que sempre senti atração pela complexidade, ouço a Sabedoria dizer: "quem for simples, venha a mim" (Sb 9,4), logo eu, que sempre desejei a sabedoria, e sempre fui tão complexo...
Para complicar ainda mais a questão, re-assisto a uma entrevista de Clarice Lispector no You Tube, na qual ela diz: "o que eu escrevo é simples". E eu sempre a achei complicada. Nunca a entendi. Sempre a pulava. Como com Machado. Sempre começava a ler. E sempre inacabava. E nunca entendia, o que era pior. Re-li sua novela magistral, A Hora da Estrela, e achei de fato, simples. Neste ano que passou, tornei-me viciado (literalmente!) em Machado de Assis (estou tornando-me viciado pela realidade), e agora, finalmente, parece que vou conseguir terminar o seu Memórias Póstumas de Brás Cubas. E estou impressionado com a atração que Machado está tendo sobre mim. Mas não é Machado, é a simplicidade. Machado, como Clarice, são terrivelmente simples. E por que não os entendemos? Porque somos terrivelmente complexos.
O que quer dizer complexidade? Eu diria numa palavra simples: confusão! A complexidade deveria ser um maior amontoamento de fatores, mas hoje quer dizer perda do significado unívoco, unitário. Não sabemos mais o que é o todo, o significado do todo, seccionamos a realidade em milhares de especialidades e não sabemos mais o que toda a realidade significa, por isso não entendemos Machado nem Clarice, porque eles são simples, e nós, complexos. A complexidade é confusão, e a confusão é uma névoa de fumaça entre nós e a realidade, nos impede de ver a realidade, de estar diante da realidade, no máximo podemos discutir sobre a realidade, mas não estar diante do real.
A sabedoria, cujo outro nome é verdade, exige que estejamos diante da realidade, e não diante dos discursos que se fazem sobre a realidade, senão a confusão reinará e nós não entenderemos mais nada, nem a nós mesmos, quanto mais Clarice ou Machado. Infelizmente, a pedagogia moderna vai na contramão disto. O educador Edgar Morin fala sempre na "educação à complexidade", que na prática, é uma educação à confusão, ao blá-blá-blá, à construção e análise de discursos, mas nunca a uma descoberta apaixonada e fascinante da realidade. Não é à toa que até os títulos de seus livros pouco querem dizer, parecendo mais mero jogo de palavras que qualquer outra coisa, tipo "O humano do humano", "A natureza da natureza" etc. Tudo o que a modernidade precisa é voltar à realidade tal como ela é, ou seja, de simplidade. Mas eu acho que toda essa complexidade, ou melhor, essa confusão, essa nuvem de fumaça, é uma forma de evitar olhar para o legado de niilismo que a modernidade nos deixou.

A Invenção da Ideologia

Ia falar sobre Ideologia, mas prefiro deixar aqui notas da aula do poeta Bruno Tolentino, realizada no Instituto Feminino da Bahia, no dia 28 de julho de 2004 sobre a Invenção da Ideologia. Segue abaixo:

"Um retrato nunca é a realidade. Havia uma tendência à deificação da ilusão. Toda pintura ocidental é ilusão; representa-se uma parte da realidade. A diferença entre a realidade viva e a representação do real é que a representação pode ser representada de novo. O real vivo precisa ser defendido contra toda representação; nada pode substitui-lo; o que é é preferível àquilo que poderia ou deveria ter sido (em nome de "um mundo melhor" matava-se o "mundo pior"). A Era Moderna, especialmente o século XVIII do Iluminismo (que não deixa de ser luz, embora ingênua) é a era da verificação do real. O Iluminismo passa a investigar a natureza do real. A positividade do real é inexorável, a defesa do real deve ser preferida; devemos preferir aquilo que é, que existe, é melhor que a fantasia. As tragédias que aconteceram são fundamentais para sermos aquilo que somos hoje; o mundo como idéia é uma distorção do mundo como fato. Se abrirmos mão disso, caímos no subjetivismo mais profundo. A invenção da ideologia não depende de nós (a invenção da liberdade não depende de nós). A doença do homem é pensar que tem os meios de saber o que é bom. Não posso possuir a sabedoria, posso amá-la. A realidade do século XVIII é procurar saber; é o dever de ser cético. Temos o dever do ceticismo, de verificar aquilo que nos foi dado. A má notícia do Iluminismo é que é que ele traz de volta a perspectiva, e o homem torna-se meramente histórico. Na mistagogia, não há essa espacialização do tempo, e ele pode se tornar a ante-sala da eternidade. Todos temos história, a História não é perfeita. O cortejo da modernidade passa pelo "arco do triunfo" da 1ª máquina de matar: a guilhotina (o século XVIII termina sendo o "século do terror"). É claro que o século XVIII foi a culminância de um processo de desmitificação da realidade; mas aí também se procede a invenção da ideologia (não se precisa tornar tudo cabível num arcabouço teórico).
O pai da Ideologia é Hegel em "A Fenomenologia do Espírito". Na Ideologia, não se tem mais o direito de se ter uma idéia; a Ideologia cria um sistema perfeito. A convenção não faz a coisa. A matemática é uma teoria do universo que compomos. No espírito de sistema, transformamos a representação da realidade na realidade. Na Ideologia, transformamos uma brincadeira em realidade. Com a entrada do espírito de sistema, desaparece o dever de ceticismo (que é a glória do Iluminismo). O auge da percepção do real chegou com Montaigne e Pascal, para ficarmos no óbvio. A coerção que o real traz às nossas idéias mais justas é preferível. É preciso segurar nossa tendência de "curar o real à tapa". Dar lições na realidade é uma das lições mais ridículas que a humanidade já se arrogou. A 1ª coisa que desaparece é o ouvir. A Ideologia é inventada para que a realidade seja melhorada de qualquer maneira. O desafio é suportar a companhia da realidade; o desafio da nossa inteligência é conviver, todos os dias, com o real (isso é o que nos separa do louco). Temos hoje também o complexo de Prometeu (o prometeísmo, que rouba o fogo dos deuses). A realidade não é a soma dos nossos esforços; é isso tudo mais aquilo que nos surpreende. Essa intenção de interferir na realidade para que as coisas progridam nos é pedida por Deus (no Antigo Testamento), mas convém não exagerar- a realidade corrige a si mesma. Parábola sufi: Moisés, Jesus e Maomé escolhem, diante de Deus, três taças. Moisés escolhe o mel, Jesus o vinho e Maomé o leite. Somente o vinho é humano, produzido pelo homem. O leite é aquele que sustenta (Moisés escolheu o mais doce); o Islã provê aquilo que é necessário ao homem, não corre o risco da abstração. Os judeus têm uma capacidade de discutir, de complicar. No cristianismo também existe isso por causa do chamado à perfeição. A capacidade de procurar, questionar-se no cristianismo é inexaurível. "A Sabedoria não é para ser atingida, e sim perseguida. Uma vez atingida a Sabedoria, ela é Loucura."
Nunca temos uma resposta suficiente para os "porquês" e "comos". A grande mudança nos séculos XV/XVI é a introdução da perspectiva (na época da queda de de Constantinopla em 1453).a loucura é trocar o "por que" das coisas pelo "como" delas. Machado e Dostoievski entram nessa lógica.No poema de Machado A Mosca Azul, o fundamental é isso: a troca do "por que" pelo "como". O homem começa a refletir-se na sua própria ilusão. Quando o homem não aceita o mistério diante de si, ele se confunde com sua ilusão; sujeito e objeto tornam-se um só, reina a subjetividade. "A Mosca Azul": este mau poema (forçosamente mau) de Machado é um dos maiores poema da estilística brasileira." Bruno Tolentino

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Empreendedor?

Há alguns meses, a revista Exame divulgou uma reportagem com um dado (não lembro a fonte) dizendo que o Brasil era o 7º país mais empreendedor do mundo. Isto é verdade. Este que vos escreve, encarnação da nova direita do Brasil trabalhou durante dezoito meses numa comunidade da capital baiana e viu a realidade daqueles que estão no nível da indigência (desde então sou um ferrenho defensor do Bolsa Família, embora abomine o mau-uso que se faz dele), e as pessoas são de fato, empreendedoras. Mas a revista erra num ponto: eu não chamaria o que o brasileiro faz de empreendedorismo, chamaria de se-viracionismo, se-vira-nos-trinta mesmo. O brasileiro não tem mentalidade empreendedora. E nisso a revista erra. E feio. Dou exemplos da minha vida. Fui hoje, às 19h25, num sebo (quem quer salvar com urgência seus neurônios corra aos sebos: além do preço ser bem mais acessível, lá, 80% não é lixo, como nas livrarias). O sebo funciona numa casa residencial e os livros ficam na sala de entrada. Como a luz da sala estava acesa, bati na porta só para saber o horário do funcionamento. A dona do sebo me atendeu com muita má vontade, dizendo que o sebo funcionava até às 17h30 ou 18h00. Saí pensando "tem gente que não gosta de ganhar dinheiro mesmo". Depois fui a uma locadora de filmes para locar O Iluminado, de Stanley Kubrick, e o atendente mal sabia atender, eu-que-me-virasse. Terminei levando o filme, mas por interesse meu que não quero ver mais debilidades mentais, e não por esforço do vendedor. Situações como estas já passei inúmeras vezes. Onde está a mentalidade empreendedora? Onde a vontade de empreender negócios? Não vou cair nas ondas dos gurus da administração que dizem "o cliente é o rei", e coisas do gênero, que ganham dinheiro para dizer o óbvio, ou como os otimistas da moda que acham que a salvação está no empreendedorismo, ignorando o papel dos governos e da situação macroeconômica, mas é uma falsidade dizer que o Brasil é um país empreendedor... é no máximo o país do se-vira-nos-trinta, pois na maioria dos casos, não tem outro jeito mesmo.

A nova direita do Brasil




A minha foto ao lado com Heloísa Helena, à direita, por sinal, diz tudo: é a imagem da nova direita do Brasil- segundo o PT e seus asseclas.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Amigos até que a morte nos separe

Milan Kundera em seu belíssimo livro A Insustentável Leveza do Ser trata principalmente da individualidade humana esmagada num país oprimido pela ex-União Soviética, a antiga Tchecoslováquia. Ele mostra também como o ser se despedaça na condição de ateísmo que foi imposta pela opressão comunista. E mostra também a realidade dos cães. Ele dedica um capítulo inteiro a Karenin, a cadela de um dos casais protagonistas do livro, e descreve de uma forma comovente, a morte de Karenin, vítima de um câncer na pata. Faz paralelo incrível com a famosa morte da cadela Baleia do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Numa sociedade cada vez mais tecnicizada, laicista, individualista, na qual os vínculos são cada vez mais estilhaçados, o amor dos cães vem recordar a nostalgia original que temos do amor. E fato, escreve Milan Kundera [adaptado]: "O amor dos cães é divino. Eles não sofreram com o pecado original. O amor gratuito deles é um reflexo direto do amor de Deus". Para quem gosta de cães, a revista Veja desta semana preparou um especial sobre cães totalmente disponível no site http://veja.abril.com.br/240107/p_068.html, que tem ainda uma entrevista com o autor do best-seller Marley & Eu. Acho que vale a pena conferir! Depois de tanto horror, os cães nos ajudam a sair de nossas trevas diárias: chamam nossa atenção onde há opressão e fragmentação, e inflamam nosso coração para nossa verdadeira exigência humana: exigência do amor! Quem lê entenda!

domingo, 14 de janeiro de 2007

Um preconceito positivista

Nada como os leitores... são tão importantes que Machado se propõe a dialogar com eles. Bem, um comentário de um leitor me instiga, aqui da Cidade Maravilhosa a escrever este texto. Eu gostaria de falar sobre o preconceito positivista acerca da religião. Auguste Comte, fundador do positivismo dizia que a evolução do espírito humano se deu em 3 níveis: mágico-religioso, metafísico e positivo, que corresponderiam à infância, adolescência e adultez. O nível de incompreensão acerca do significado do termo evolução e sua confusão com o termo desenvolvimento é algo que foge ao propósito deste texto. O que ocorre no espírito humano é desenvolvimento, não evolução. É um desconhecimento tremendo da teoria evolucionista que ocasiona tão grande confusão. É um preconceito monumental e eurocêntrico a idéia de que os povos religiosos são primitivos ou que estão na infância do espírito. É fruto de uma Europa que disse um grande "não" a si mesma, pois a Europa, tal como existe hoje, é fruto do cristianismo. Basta ter olhos para ver. A presença e influência do cristianismo é monumental. Este preconceito é fruto de uma birra adolescente, fruto do fundamentalismo laico, que busca colocar a religiosidade como algo irracional, fruto do primitivismo e da "infância do espírito". Pelo contrário, a religiosidade é estrutural, inerente ao espírito humano. Um forte espírito anti-clerical, uma grandiosa pretensão da razão iluminista fez Comte, Marx e Freud rejeitarem a natural religiosidade do humano. Até mesmo um vigoroso combatente do cristianismo, Nietzsche, afirmava uma religiosidade, mesmo que não-cristã. O poeta T.S. Eliot intuiu isso quando escreveu nos Coros de A Rocha: "Onde não existem templos, não existem moradas". O próprio Comte se contradisse em vida quando fundou em vida a "religião da humanidade", uma paródia clara do catolicismo. Portanto, a religião não é ideologia. É um fato, é natural, é estrutural ao espírito. E quanto ao cristianismo, fazendo uma análise rigorosa, não é uma religião, mas é um fato: um homem que se disse ser Deus. Como dizer que o fato mais abundantemente documentável é uma ideologia? Só a presunção de quem não quer ver o que está à sua frente e olhar a própria experiência que vive, pode dizer que a religiosidade é ideologia... puro preconceito!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Sobre as nossas contradições

Por mais que não queira, tenho que admitir: sou um pós-moderno. E uma contradição. Machado diz que a essência do homem é a contradição. Mas por que digo isso? Há duas postagens disse que era "inatual". E sou mesmo. Em 14 de novembro passado fui chamado de "careta" porque disse que ia ler Os Sofrimentos do Jovem Werther, enquanto dizia que uma maluqueira moderna não valia minha perda de tempo. Ao mesmo tempo, estou aqui ouvindo Pitty, com a página do orkut aberta e lendo meus e-mails. Coisas típicas do homem pós-moderno. Mas as contradições não param por aí. À uma hora da tarde de ontem estava conversando com amigos marxistas revolucionários e condenando a revolução; já às nove da noite estava defendendo o Programa Bolsa Família contra a direita raivosa anti-PT. Condeno ao mesmo tempo as pretensões totalitárias de Chávez, a imbecilidade de Evo Morales (ou será Imorales por ter assaltado o Brasil?) e a debilidade mental do presidente dos Estados Unidos George W. Bush... contradições nossas de cada dia que fazem parte do nosso mundo. E devemos aceitá-las, porque senão caímos num erro antigo: o maniqueísmo, combatido de forma tão veemente por Santo Agostinho. De fato, o maniqueísmo representa uma grande tentação do pensamento humano: a racionalização do Mal, a divisão do mundo entre bonzinhos e mauzinhos. A esquerda e a direita adoram fazer isso, satanizarem uns aos outros, pelo simples gosto de se sentirem cada uma, a boa, a bela e o que há de melhor. Esta é a receita para o totalitarismo, a perseguição, o massacre e a morte, em nome do bom, do belo e do que há de melhor. Em nome do bom, do belo e do que há de melhor, a Inquisição cristã matou 300 mil pessoas em 300 anos, a 2ª Guerra Mundial 58 milhões de pessoas em 6 anos, e o comunismo, 100 milhões de pessoas em 70 anos, sendo 70 milhões somente na China, e o lobby abortista mata inumeráveis não-nascidos na atualidade. Por isso, o escritor Gustavo Corção disse que é uma estupidez tanto ser comunista como anti-comunista. Não há muita diferença entre as diametralmente opostas posições. Ambos o fazem em nome do bom, do belo e do que há de melhor, e no auge de suas posições, matariam em nome desse mesmo bom, belo e o que há de melhor. Isso se chama "ideologia". Contra ela, a melhor posição é omandamento do Logos que se fez carne no Natal: "Amai ao próximo como a ti mesmo". É arriscar no contragolpe da contradição do real. É a vitória contra a loucura e a ideologia; é o amor ao real e a sabedoria.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Clarice e a realidade

"Eu prescindo da realidade por que posso ter tudo através do pensamento. A realidade não me surpreende. Mas não é verdade: de repente tenho uma tal fome da 'coisa acontecer mesmo' que mordo num grito a realidade com os dentes dilacerantes. E depois suspiro sobre a presa cuja carne comi. Por muito tempo, de novo, prescindo da realidade real e me aconchego em viver da imaginação" Clarice Lispector 

sábado, 6 de janeiro de 2007

Um blog de combate

Este será um blog de combate: desejará combater a burrice, a estupidez, a debilidade mental! E portanto, um de seus alvos será o bushismo, epíteto de toda essa maluquice! Mas não apenas ele: o fascismo de esquerda histérico e o fascismo islâmico não escaparão! Combater a barbárie que essa gente quer implantar no mundo deveria ser tarefa de todos: por favor, salvem nossos neurônios! A execução de Saddam foi um dos atos de maior agressão aos direitos humanos, barbárie e selvageria que se pode imaginar! Um retrocesso monumental! E feliz 2007!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Dai à obra de Marta um pouco de Maria

Machado de Assis

Dai à obra de Marta um pouco de Maria,
Dai um beijo de sol ao descuidado arbusto;
Vereis neste florir o tronco ereto e adusto,
E mais gosto achareis naquela e mais valia.

A doce mãe não perde o seu papel augusto,
Nem o lar conjugal a perfeita harmonia.
Viverão dous aonde um até 'qui vivia,
E o trabalho haverá menos difícil custo.

Urge a vida encarar sem a mole apatia,
Ó mulher! Urge pôr no gracioso busto,
Sob o tépido seio, um coração robusto.

Nem erma escuridão, nem mal-aceso dia.
Basta um jorro de sol ao descuidado arbusto,
Basta à obra de Marta um pouco de Maria.

A absurda ligação da esquerda com o Islã

A esquerda realmente me espanta com os seus absurdos, como a histérica defesa do aborto, que é pura e simplesmente assassinato de um ser indefeso em nome daquilo que supostamente seria "o bom, o belo e o que há de melhor": na verdade, a morte.
A pecha de direitista, ultraconservador ou coisas do gênero não freiam minha oposição a este crime horrendo, que na minha concepção vai contra toda exigência de justiça, que pra mim, deveriam ser o apanágio da esquerda. Há alguns dias fui chamado de socialista, revolucionário e até maldito simplesmente por defender a dignidade do trabalhador, de um lado, e de outro por ser contra uma organização ultra-conservadora (esta sim) da Igreja. Portanto, rótulos não me metem medo.
Assim sendo, chegamos ao nosso termo: a absurda ligação entre a esquerda e o Islã. Que ligação pode haver entre uma fina flor da nossa civilização moderna e ocidental, nascida na Revolução Francesa de 1789, que deu origem incontestavelmente- apesar dos protestos da direita, e de várias burrices históricas da esquerda- a avanços espetaculares no mundo ocidental, e aquilo que de mais atrasado existe no mundo, que é o fascismo islâmico, entre a vanguarda e as ditaduras mais sanguinolentas, onde não há separação entre religião e Estado, nem respeito aos direitos humanos, nem às mulheres, e nem liberdade econômica, religiosa ou política (salvo raríssimas e honrosas exceções, como o Irã)?
O fato é que o Ocidente se odeia; se odeia porque esqueceu de si mesmo. A vanguarda quer avançar sem olhar a tradição, com medo do tradicionalismo. E aí, passa a querer destruir tudo. De fato, os últimos séculos e especialmente as últimas décadas foram um período de especial destruição do patrimônio histórico-cultural da civilização greco-judaico-cristã, que aqui chamo de moderna ou ocidental, até chegarmos à tecnocracia non sense na qual estamos imiscuídos, no absurdo, como retratam filósofos como Sartre e escritores como Camus. Chegando ao niilismo total, e sem ter o que destruir, sem causas efetivas para defender desde a implosão da URSS, a esquerda abraça o fascismo islâmico, em nome de ser contra "a direita", num absurdo monumental, como nunca se viu. Só reconhecendo, aderindo e amando a própria origem é que a vanguarda de esquerda, de forma lógica e coerente vai poder construir um mundo mais justo e menos desigual, porque as sementes deste mundo estão no Ocidente e a esquerda nasceu nele e dele. Não é voltando ao mundo antigo, defendendo posições nazistas e eugênicas como o aborto ou abraçando absurdamente o fascismo islâmico que a esquerda vai encontrar o seu caminho.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

O Natal e a civilização

Não é apenas um menino que nasce na manjedoura em Belém, no Natal. Toda a civilização que hoje se chama de ocidental surge lá naquela gruta, onde Maria deu à luz a Jesus.
A civilização ocidental ou moderna, que por mais que queira, não deixa de ser fortemente cristã, se esboça primeiramente no século VI a.C., onde os filósofos como Sócrates e Platão, sucedido por Aristóteles, buscavam a verdade objetiva, para-além dos mitos, verdade que batizaram de Logos ou Ratio, razão. Todo esse movimento deu origem à filosofia, que significa amor à sabedoria, ou à verdade. Isso propiciaria uma primeira globalização, primeira unidade realizada por Alexandre Magno, realizada pelo grande sincretismo entre o helenismo e o orientalismo, e depois com a cultura romana. Tal sincretismo gerou uma síntese única e um intercâmbio entre povos, culturas, idéias, escolas filosóficas e religiões, num universalismo de causar inveja aos iluminados da Ilustração. Não é à toa que o apóstolo Paulo, culto, chama a este de "a plenitude dos tempos" (cf. Gl 4,4). E de repente, no meio deste gigantesco sincretismo, e de uma forma inesperada, nasce um menino. Um menino como todos os outros, mas que vai revolucionar este mundo pouco tempo depois. De fato, isto é um evento, um acontecimento, um menino que nasce. E o apóstolo João vai dizer que "o Logos se fez carne" (cf. Jo 1,14). Para os cristãos, a fé é exatamente um acontecimento: um menino que nasce. Antes de ser uma doutrina, ou um conjunto de normas e regras morais e ascéticas, o cristianismo é um anúncio deste evento: que o Logos dos filósofos, a Ratio, a Verdade se tornou carne, e nasceu. E conseqüências inauditas e inesperadas advêm deste fato. Surpreendentemente, 50 anos após a morte de Cristo na Cruz, todo o Império Romano estava tomado de comunidades cristãs, que eram violentamente perseguidas. Menos de 300 anos após a morte de Cristo, o cristianismo se tornou aceito e em 391 d.C. foi proclamado como a religião oficial do Império. Em 476 d.C. o Império caiu, e os cristãos ficaram. E mais: como a única instituição de pé. A Igreja salvou a civilização, várias vezes, não apenas contra os bárbaros, mas contra o Islã na batalha de Poitiers (732 d.C.) e na Guerra de Reconquista (732 d.C.- 1492 d.C.), origem da Espanha, Portugal e de certo modo, da América Latina, enquanto cultura e civilização. Mesmo os desenrolares posteriores do Ocidente sempre estiveram em relação com o cristianismo e com a Igreja. Sempre a favor, ou contra. O fato é que a civilização ocidental ou moderna não consegue se desvencilhar daquele menino que nasceu na gruta de Belém, ora aderindo amorosamente ao anúncio do seu evento, ora perseguindo-o violentamente nas pessoas dos seus seguidores. O menino que plasmou e moldou a nossa civilização.