sábado, 2 de fevereiro de 2008

Ouvindo Nirvana

O que Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Kobain têm em comum exatamente? Os três morreram com apenas vinte e sete anos, os dois primeiros com overdose, e o terceiro com um tiro na cabeça em abril de 1994. O início da minha adolescência foi marcado por ouvir Nirvana, e até hoje eu ouço e gosto. Eu gosto de rock. Ouvir esses artistas e pensar na trajetória deles nos ajuda a entender o que é o homem e o que é a arte. É estupidez achar que arte é coisa só de artista. Arte diz respeito a todo ser humano, porque a arte exprime o humano, e entender a arte significa entender o homem. E o que é o homem, exatamente, o que é "esse dinamismo que é a busca da felicidade", como diz Leopardi? Há alguns anos, eu abri um livro que me veio com uma resposta que até hoje, não esqueço: o homem é desejo. Somente e exatamente isso: desejo. O que moveu e move o homem a fazer qualquer coisa é o desejo. O que nos une a todos nós, em nossa comum humanidade, é exatamente o desejo. O que tenho eu a ver com Janis Joplin, Jim Morrison ou Kurt Kobain? Por que podemos nos identificar? Por causa do desejo, que é comum, embora muitas vezes seja traduzido de diversas maneiras a depender da cultura. Mas uma pergunta surge no horizonte: por que eles morreram? O que causou sua morte? A resposta é: uma insatisfação estrutural, em vista de um desejo potentíssimo; os primeiros buscaram o refúgio nas drogas, que é uma forma de fuga da realidade, e portanto, fuga do desejo "insuprimível", como diz Leopardi, e o terceiro, não aguentou a tensão do real e se suicidou. Então, surge a pergunta: o que satisfaz o desejo? O que leva um homem a atravessar "o deserto do real", como diz Pasolini, e viver, enfrentar a vida? O Mistério, o Mistério que se revela como beleza. Dizia Pasolini: "Mas no deserto de nossos caminhos Ela passa, rompendo o limite finito e enchendo os nossos olhos de desejo infinito". Vejamos o caso de Beethoven. Ele era surdo. Mas o desejo era tão grande, e o reconhecimento do Mistério tão maravilhoso que levou esse homem não só a se aceitar, mas a enfrentar a vida, a compor e hoje ser um dos maiores homens da música de todos os tempos. Não há saída: ou o homem aceita o Mistério ou definhará, e isso do ponto de vista existencial mesmo. Ou definhará de forma trágica (overdose ou suicídio) ou definhará vivendo de forma cínica a realidade que não lhe satisfaz. Reconhecer o Mistério, a Máquina do Mundo de Drummond é a única oportunidade de viver a realidade com respiro, e conviver e entender os outros homens e mulheres de nosso tempo. No belíssimo filme As Invasões Bárbaras (2004), uma irmã disse a um intelectual de esquerda ateu que estava para morrer de câncer: "aceite o Mistério, e será salvo!" No final do filme, quando ele já estava à morte, via as imagens espetaculares da natureza (ele estava à beira de um lago num sítio de um amigo), e estas não lhe faziam sentido algum, causavam-lhe náusea, como descreve Sartre em seu famoso romance A Náusea. O reconhecimento do Mistério naquela beleza tremenda que "passa diante dos nossos olhos" é a única oportunidade de salvação, isto é, que nossa vida tenha beleza, sentido e significado. A beleza nos salvará, como diz Dostoiévski, porque ela é que nos fere (quem resiste a um pôr-d0-sol? Mas ele nos causará admiração ou náusea?) Eu agora estou reconhecendo o Mistério ouvindo Polly e Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. Não deixa de ser uma forma de oração, um grito ao Mistério por beleza, sentido e significado na vida!

2 comentários:

Trobadour Solitaire disse...

Ouvir o mistério? talvez devamos abrir os olhos e ver a realidade e não sempre fechá-los quando estamos em desespero e clamamos algo....eu não sei até o quando o homem vai esperar pra viver so, fica criando leis,regras,deus,guerras e no final é coberto de terrar e vira alimento de bactérias!

P.S: você foi infeliz ao usar Sartre no seu texto,você sabe disso

Dimitri Martins disse...

Alesson,

Citando você:

"eu não sei até o quando o homem vai esperar pra viver so, fica criando leis,regras,deus,guerras e no final é coberto de terrar e vira alimento de bactérias!"

meu amigo, você não consegue entender que é exatamente isso que você citou acima que nos torna humanos? Que é exatamente esse desejo que eu tanto falo? Os cães (os meus inclusive) não fazem nada disso... coberto de terra e alimento de basctérias... por isso Sartre fala da náusea, e do absurdo... sem o reconhecimento do mistério presente só sobra isso!

Um abraço,

Dimitri