Ontem, assisti um filme excelente, fantástico, fenomenal! Em português traduziram como "A Era da Inocência", porém em francês se chama "L'Âge de Ténèbres" (A Idade das Trevas). O filme canadense de 2006 não é nada mais nada menos que a sequência do estupendo As Invasões Bárbaras, porém este filme consegue a proeza de ser ainda melhor que o segundo da trilogia iniciada com O Declínio do Império Americano. Se o segundo filme mostra a passagem da nossa era para a barbárie, o último filme mostra a barbárie em ato, num misto de genialidade e completude sem igual no cinema contemporâneo; é uma análise perfeita (sem deixar de ser sarcástico-irônico-cômica) da nossa pós-modernidade neo-bárbara. L´Âge de Ténèbres mostra que saímos definitivamente da civilização moderna, e não sabemos bem no que entramos. O que marca a neo-barbárie? No meu entender, não mais saques e mera destruição física como no passado. A neo-barbárie pós-moderna é marcada pela destruição do humano: a impossibilidade total de qualquer relacionamento verdadeiro. Isso é evidenciado de diversas maneiras: desde a família que não convive, passando pelo sufocante ambiente de trabalho estatal, aos encontros na agência "amorosa" e pelas mulheres que o personagem inventa na falta de companhia e na sua mãe que sofre de Alzheimer e está internada num asilo. O filme tem muito mais a mostrar e a dizer, mas posso garantir: é um retrato extremamente fidedigno da nossa era pós-moderna de destruição do humano. Há pouco tempo, vi um vídeo do You Tube no qual um ex-espião da KGB dizia que a principal diferença entre o seu país e os EUA era que enquanto nos EUA a pessoa valia alguma coisa, era levada em consideração, na URSS não valia nada, era como que um inseto. Na mensagem para o Dia Mundial da Paz (1º/1) de 1985, o Papa João Paulo II disse que quando Deus é morto (como afirmou Nietzsche), o homem morre logo em seguida (não é à toa que filósofos como Michel Foucault e Gilles Deleuze falam na "dissolução do sujeito"), e não é por menos que a temática cristã re-aparece no filme, como nas Invasões Bárbaras: a barbárie é marcada por igrejas vazias e por um desejo nostálgico de "ordem e fé", como é expressado, para re-construir o humano. É impressionante constatar na prática o que disse um grande amigo meu, falecido no ano passado, Bruno Tolentino: "Não há alternativa cultural ao cristianismo", a não ser a barbárie. A verdadeira mensagem do filme é que vivemos as verdadeiras trevas agora, no início do século XXI, era de solidão, vazio, absurdo e desespero. E aponta claramente um caminho: Jerusalém! (que significa Cristo, para quem quiser entender, representado hoje por uma pessoa viva: o atual papa Bento XVI). É a alternativa concreta para a loucura á qual nos empurram cada vez mais, dia a dia! É a possibilidade concreta de viver a vida com amor e esperança, de forma cem vezes mais humana do que o que nos é oferecido hoje por aqueles que detém o poder.