segunda-feira, 5 de maio de 2008

A eterna novidade do mundo

Há alguns dias desejo escrever algo sobre o fascínio causado por Marx ou sobre o equívoco de Nietzsche (de que o cristianismo é contra a vida, é exatamente o contrário). Mas sinto-me impelido a escrever este post devido à minha ida a LDM (livraria da UFBA) e visto a entrevista que Ignacio Ramonet (do Le Monde Diplomatique- jornal de esquerda francês) fez a Fidel Castro. Neste livro continham fotos desde 1896 até os dias hodiernos acerca da luta de Cuba pela sua liberdade. Dei uma olhada nas fotos, das lutas e das vitórias, e do encontro de Fidel com outros líderes do mundo, como Nelson Mandela. É tão bonito quanto triste... digam-me uma novidade. A História do homem é pautada pela guerra, desde a guerra do Peloponeso, de Atenas contra Esparta, do Egito contra a Núbia, de Israel contra os povos cananeus, dos persas contra os babilônios à Mahabarata indiana e à guerra dos romanos contra os bárbaros... e por aí vai, a História é uma carnificina só... se nos atentarmos somente a isso, poderemos cair numa postura niilista como Nietzsche que ainda justicava coisas como essa, em nome da "evolução do homem". Até mesmo Kant na Paz Perpétua defende a guerra como algo natural e necessário. É claro que não se quer aqui deslegitimar todas as guerras- talvez somente a absurda guerra contra o Iraque... mas isso é o comum da humanidade...
Mas de repente aparece uma novidade! No meio de toda essa sangüinolência Fernando Pessoa, depois da 1ª Guerra Mundial, a guerra mais mortífera e bárbara de toda a História até aquela época pôde dizer: "sinto-me nascido a cada instante para a eterna novidade do mundo". Como ele pôde dizer isso? Porque antes, muito antes, alguém disse isto:

"Que vosso amor não seja fingido. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade. Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram. Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisa modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21s). Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem." (cf. Rm 12, 9-21)

Até hoje, eu nunca encontrei tamanha novidade e tamanha necessidade de revolução interior. Hoje, Charles Morgan diz no seu Ensaio sobre a singularidade da mente: "Muitos homens se deixam convencer pelo desespero de não haver remédio contra a violência do mundo presente, exceto a fuga ou a destruição. Mas há outro remédio que está ao alcance de qualquer, da mãe, do sábio, do marinheiro, do camponês, dos jovens e dos velhos. O remédio é esta concentração do espírito ativo, que o pensamento humano conservou através de tantas tiranias, e que o preserva ainda. Essa concentração espiritual a que Jesus chamou a pureza do coração, e que é o gênio do amor, da ciência e da fé. Assemelha-se a um rio faiscante, indomável e inflexível como o zelo dos santos. Chamam aos santos de fanáticos, e realmente eles não permitem que ninguém os desvie dos seus objetivos. Mas é no caos da política que através deles chegamos à ventura e ao milagre: - de ser um homem."

Quem carrega essa certeza para o mundo hoje é o papa! Pra mim, isso é cada vez mais claro! Só ele leva a novidade do amor e da paz, para o mundo dilacerado pelas guerrass eternas (sobre o caso Isabella, o infanticídio é uma prática comum onde o cristianismo não chegou) e pelo ódio mundo (especialmente hoje no nosso mundo de guetos- da mesma forma como era há 2000 anos, o mundo sob o império Romano, dividdo em inúmeros guetos, mantido unido pela força). Quem quer maior semelhança? A escolha está, entre a novidade e a mesmice, entre o niilismo nietzscheano e a eterna novidade do mundo de Pessoa.

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