sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Vicky

Esta carta de uma amiga de Uganda aidética pode ajudar a entender o que significa concretamente o encontro de uma pessoa com a companhia da comunidade cristã, e o que o amor - suprema novidade introduzida por Cristo no mundo - pode fazer quando o deixamos operar. Segue a carta, para que se torne mais claro o verdadeiro rosto da Igreja, ofuscado por inúmeros preconceitos.

“Meu nome é Vicky, tenho 42 anos e venho da região oriental de Uganda. Quero agradecer a vocês e a Deus pela vida preciosa que me deu. Em 1992, quando engravidei do meu último filho, Brian, meu marido pediu que eu escolhesse entre continuar sendo sua esposa renunciando à gravidez ou separar-me dele se quisesse ter a criança. Naquela época tinha só dois filhos e decidi levar a gravidez adiante, o que marcou o fim da nossa relação. Realmente não entendia por que ele estava sendo tão cruel e intransigente. Depois, em 1997 perdi o trabalho porque fiquei doente e, ao mesmo tempo, meu filho Brian manifestou sintomas de tuberculose, e surgiram as primeiras suspeitas. No ano seguinte piorei e, no hospital de Nsambiya, fui examinada e submetida ao teste de HIV, que deu positivo. Foi então que me lembrei e entendi por que meu marido não queria a gravidez de Brian: na época, ele também era soropositivo.

A vida em casa, com meus três filhos, tornou-se difícil. Os dois primeiros eram saudáveis, mas não tínhamos dinheiro para pagar a escola; não tínhamos o que comer, nem dinheiro para os remédios, e, pior de tudo, não tínhamos amor de nenhuma parte do mundo. Não sabia mais se Deus realmente existia. Em 2001, alguém me mandou ao Meeting Point International, onde encontrei mulheres as quais era difícil para mim acreditar que pudessem viver daquela forma mesmo estando doentes de Aids, tal era a alegria que tinham no rosto; dançavam e estavam felizes, e eu me perguntava como alguém que tinha essa doença podia cantar e dançar. No Meeting Point você é acolhido com músicas e canções de diferentes povos - africanos, europeus, indianos -; ouvi até algumas de minha própria tribo. Depois de um longo tempo, comecei a ver uma luz brilhar sobre meu ser em pedaços, então comecei a encontrar-me com aquelas mulheres.

Uma coisa importante, que nunca esqueci, foi o dia em que alguém me olhou com um olhar que tinha em si raios da esperança e do amor. Durante todo esse tempo eu fiquei na cama e todos os meus amigos, os parentes e até os vizinhos olhavam para mim e para meus filhos com repulsa e desprezo. Com este olhar de amor e esperança que me lançaram foi-me mostrado algo que trouxe vida ao meu espírito e corpo em pedaços. Eu disse a mim mesma: ‘Vicky! Você tem valor e o seu valor é maior do que o peso da sua doença e do que a morte’.

Em 2002, comecei a comprar remédios para meu filho, que estava para morrer, depois de tê-lo tirado da escola por causa da discriminação com a qual era tratado: tinham-no apelidado de ‘esqueleto’. Em 2003, também comecei a comprar remédios para mim. Eu pesava, então, 45 quilos, agora peso 75. Brian, agora, está realmente saudável e voltou para a escola. O meu filho maior está na universidade, o segundo, no colegial. Onde está o poder da morte? Está na perda da esperança e na falta de amor. Agora, trabalho como voluntária no Meeting Point, e todas as vezes que acolho as pessoas digo a elas que o valor da vida é maior do que aquele vírus que carregam dentro de si. Essa afirmação nutre a esperança de uma pessoa que sofre e está para morrer e a traz de volta à vida. Todos os meus resultados só foram possíveis porque fui revestida de algo além da morte e, em particular, de amor. Obrigada a todas as pessoas que nos educaram embora nunca as tenhamos visto. Mas hoje, em nome de Giussani, Carrón veio entre nós, que éramos pobres e esquecidos: quem é mais rico do que nós, agora? Somos os mais ricos do mundo porque alguém colocou pelo menos um sorriso no rosto de uma pessoa”.

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