domingo, 16 de novembro de 2008

Pensamentos Ridículos

Escrevo esse post pensando na música do Cranberries, Ridiculous Thoughts, e inspirado na quarta-feira, onde fui debatedor no V SepAdm. Ali eu entendi o que são os pensamentos ridículos.
Pensamento ridículo é todo pensamento descolado da realidade, porque quando isso acontece, eu me torno prisioneiro da minha mente, eu me torno prisioneiro de mim mesmo. O cristianismo tem um nome muito preciso a isso. É o que a tradição cristã chama de "inferno".
Inferno é um grande não à vida, ao ser, às coisas, ou seja, à realidade, ao outro. O Inferno é a suprema alienação. Porque o homem não existe per-si (em outras palavras, não é Deus), o homem existe como uma relação, uma relação que lhe é vital, constitutiva. A realidade é para nós como o ventre da mãe para o feto, vital, constitutiva. Isso é tão verdadeiro que os santos chamavam os que negam a Deus como "escravos constrangidos de Deus", porque eu dependo de uma realidade, que é feita por um Outro. Eu não me dou a minha mãe, por exemplo. Sou constrangido a ser filho dela. Não posso não ser mais filho de minha mãe, isto é algo de definitivo, de eterno, para o qual não há mais escolha.
Para ter clareza dessas coisas, a grande e única coisa pedida é olhar a realidade. Nós somos salvos somente pela realidade e dentro da realidade. Por isso que S. Paulo dizia que a realidade é Cristo (Cf. Cl 1,17). O Mistério é a suprema realidade, como "R" maiúsculo.
Infelizmente, o que vi num dos artigos do SepAdm sobre a diversidade foi um monte de blá-blá-blás sem observação da realidade. O cientista Alexis Carrel dizia que muito raciocínio e pouca observação conduz ao erro, muita observação e pouco raciocínio conduz à verdade. Porque a verdade é uma evidência, é um fato na História, diz o Papa. A Bíblia é ainda mais simples, no Antigo Testamento diz: "A verdade é!", no Novo ela fala: "A verdade é a realidade!" Ou seja, são as coisas! É aquilo que existe, e que está na nossa frente, e à qual todos podem ter acesso! O cristianismo é o grande anúncio disto, ou como eu gosto de dizer, é a democratização do Mistério, e é uma educação do espírito a estar diante da realidade tal como ela é. O contrário disso é o que chamamos de pecado, sendo que o maior de todos é o orgulho!
A pessoa que falava em diversidade repetia visivelmente um monte de fórmulas esquemáticas, no meu entender vazias, porque não comparava o que dizia com as aspirações profundas do próprio coração - amor, beleza, bondade, justiça, paz, liberdade, felicidade.
Eu não gosto da palavra tolerância. Porque eu não quero tolerar ninguém, eu não quero suportar! Eu quero conviver, eu quero amar, quero ser amigo daqueles que eu encontrar no caminho da minha vida! Porque não me corresponde me justapôr às pessoas, como se fôssemos meros tijolos do edifício social, somos pessoas com exigência de Infinito! E a grande novidade da fé cristã é que o Infinito se fez homem, encarnou-se, é um homem que come e bebe! E por isso, ligou-se de modo indestrutível a todo e qualquer homem, que graças a isso é sinal e presença do Infinito! Cada pessoa que eu encontro é uma estrada para o Infinito! Como posso apenas me justapôr àqueles que são a estrada que o Infinito, que o Mistério me dá para chegar até Ele? Apenas me justapôr é muito pouco para mim, porque eu desejo o infinito!
O contrário da tolerância é o amor, e amor não é uma coisa romântica, implica muita dor e sacrifício! Sacrifício pelo próprio mal e erros, principalmente; mas também sacrifício pelas incompreensões alheias, para os quais a mera justaposição é a coisa mais cômoda!
Nós estamos diante do fio da navalha. A tolerância anda colada com o niilismo e é a ante-sala da barbárie e da guerra. A convivência, a amizade anda junto com a esperança, e é ante-sala da paz e da civilização!
Mas quem vai nos educar a isso? A realidade! O primeiro passo é explodir a prisão dos próprios pensamentos "ridículos", e adentrar o fascinante mundo do real!

Um comentário:

R�mulo disse...

Interessante esta descrição do inferno como algo do mundo, como a alienação e insuficiência intelectual resultante do descolamento da realidade. Acho que isto é, sem dúvida, um inferno.

E isto é interessante pelo fato de que, quando lembramos do inferno, não lembramos da bíblia - ela mesmo não descreve o inferno. Nas escrituras pode ser interpretado tanto como um lugar ao qual se "desce" (Deuteronômio 32:22; Isaías 14:15; Ezequiel 32:27; etc.) como um estado que se atinge em vida (Jonas 2:2; etc.). O inferno com o qual o senso comum está acostumado é o inferno de Alighieri e não o da Bíblia.

Como evangélico, tendo para o um inferno "lugar", como estudante concordo com um inferno "estado"... dialético, não?!

Abraços,

Rômulo C. Cristaldo
http://admcritica.wordpress.com/