terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A mais urgente das questões

Hoje é meu aniversário, e eu estou muito surpreso comigo! Eu estou MUITO FELIZ neste últimos dias, e isso evidencia-se particularmente agora quando completo mais um ano de vida. O meu aniversário é uma data muito importante pra mim porque há poucos anos, eu não gostava de fazer aniversário, não gostava de ficar mais velho. Eu via os meus anos se evaporarem, como se fossem areia numa ampulheta, indo para nunca mais voltarem, e o pior de tudo, sem sentido algum. Nos últimos anos, e a cada ano isso é mais verdade: este ano estou mais feliz do que no ano passado, eu estou mais feliz por fazer anos, eu me sinto extremamente grato pelo fato de estar vivo (principalmente quando eu lembro das várias ocasiões nas quais me vi face-a-face com a morte - eu lembro todas as datas - desde quando eu tinha 3 anos quando fiquei gravemente doente, devo minha vida a uma promessa que minha mãe fez a São Francisco de Assis, até a última vez que me vi em perigo, em 2007), e o mais interessante, cada vez mais jovem, mais vivo, mais ativo, mais alegre, mais feliz; não que eu seja uma nova Pollyanna, tentando "ver o lado positivo de tudo", estou feliz mesmo, primeiro por que estou vivo, e segundo, que não estou sozinho - Deus está vivo e está comigo!
Estou me dando conta nos últimos tempos o quanto eu amo a vida, a minha em primeiro lugar, e de todos aqueles que me cercam. A vida não é uma coisa óbvia, a vida é preciosíssima, é rara, é um milagre, não só a vida humana, mas toda a vida. Um dia eu me lembro que uma amiga estranhou que eu chamei na rua um cão de "amigo", depois me consolei lembrando que São Francisco o chamaria de "irmão". Pensei: "ele é mais radical que eu". E fiquei em paz!
Tendo em vista tudo isso, me dou conta de que nós nos distraímos daquela que eu chamaria de "a mais urgente das questões", simplesmente essa: "que é a vida?" Estou acompanhando atentamente o que está acontecendo em Gaza, e eu sou totalmente contra o que está acontecendo lá, por uma razão muito simples: aquilo ali vai virar um massacre completo se ninguém fizer nada. Vejo, ao redor do mundo, inúmeras manifestações, passeatas, reivindicações, e penso: "será que aquelas pessoas sabem o que estão fazendo ou são conduzidas somente pela mídia? Por que esse interesse todo pelos palestinos, interesse que parece desconsiderar a existência dos terroristas do Hamas e do Hezbollah? E pior ainda: por que essa manifestação toda por Gaza e a desconsideração completa pelo que está aocontecendo em proporções muito maiores em Darfur, no Sudão?" E aí eu entendo que essas manifestações são somente ideológicas, quase ninguém de fato ama a vida de ninguém e só está se manifestando por um puro jogo político que a mim me dá nojo. Em 2001 eu fiquei enojado com pessoas militantes de movimento estudantil que estavam comemorando o ataque às Torres Gêmeas, porque era um "ataque ao coração do império!" pelo amor de Deus! Não estamos jogando WAR! A impressão que eu tenho é de que muita gente que fala isso não cresceu psicologicamente, vivendo como se estivéssemos num imenso jogo!
Mas não! Não estamos num imenso jogo, a vida de verdade é um imenso drama, impõe-se a nós, por mais que queiramos fugir para lá ou para cá, e impõe-nos uma pergunta, cujo grande risco para nós é a ruína - sob o nosso próprio olhar complacente - da nossa vida, em desespero, ódio, amargura e rancor, como vemos em nossa volta: basta abrir os olhos.
Eu sou imensamente grato pela oportunidade de estar vivo, de viver, ser chamado do nada ao ser! Vir do nada ao ser, isto não é nem um pouco óbvio! Como disse um amigo meu que está se formando em medicina, "cada minuto é um milagre!", não é nem um pouco óbvio! E a vida, das duas, uma: ou tem uma razão - logos - ou é absurda - vem do acaso, não há uma terceira alternativa. Olhando a minha vida, a forma como as coisas aconteceram e acontecem é muito evidente que existe uma razão - logos - uma razão poderosíssima - tão poderosa quanto discreta, porque respeita a nossa liberdade e a nossa inteligência (como disse S. Tomás Morus "Deus criou o homem para servi-lO na astúcia da sua inteligência" - desafiá-lO é obra de Satanás), e que não só é poderosa, como me ama, move a realidade a meu favor - providência. Sou grato a tudo o que vivi, tudo e todas as pessoas que encontrei e encontro: cada uma revela uma face do Mistério pra mim, uma face da multiforme graça de Deus. Diante de tanta graça, de tanto amor, como não se animar? Eu sempre - depois que descobri - ponho diante de mim, a frase que Machado de Assis disse antes de morrer: "a vida é boa!", ou como ele disse em Memórias Póstumas de Brás Cubas: "verdadeiramente, o único mal consiste em não nascer!", ou o saudoso amigo Bruno Tolentino, "copiando e erudizando" Machado, "a realidade é inexoravelmente positiva!", boa!
O que me deixa mais grato é o que eu chamo de "salvação", a chance de ter esperança na vida, alegria, paz, amar a mim mesmo, Àquele que me criou e me cria e àqueles que Ele coloca em meu caminho, isto é, ser feliz! O que me deixa mais feliz é a graça de ter sido escolhido e de dizer sim ao Mistério que se fez carne e é verdadeiramente, o Caminho, a Verdade e a Vida, o Mistério que anima (dá a vida) a tudo criado. O que me deixa mais grato é ter alegria num mundo no qual as pessoas são tristes, é ter esperança num mundo onde as pessoas são desesperadas, é amar num mundo no qual as pessoas se matam umas às outras, é ter amigos (em todo o Brasil, na França, na Itália e agora nos Estados Unidos) num mundo no qual as pessoas se reduzem ao mero "si mesmo" e à solidão e justaposição niilista que gera depressão e suicídio.
O meu maior desejo é que a minha vida seja útil, sirva para alguma coisa. E eu quero que ela sirva para levar vida às pessoas, levar paz, amor, esperança. Isso é o que mais me realiza, o que mais me faz feliz! Eu quero espalhar essa vida que eu encontrei e que mudou a minha vida em 180 graus. Eu não quero só entender - porque o reconhecimento do Mistério (e com ele, a humildade) é a plenitude do humano - tudo, embora entender seja justo, eu não quero só pensar - porque até um débil mental pensa (mesmo que forma truncada), eu quero viver, acima de tudo. Já disse Clarice Lispector: "não se preocupe em 'entender': viver ultrapassa qualquer entendimento!" Viver é muito mais do que entender, é muito mais do que pensar, engloba tudo, mas transcende tudo isso. A única forma de descobrir o significado da vida não é "entendendo" ou mesmo "pensando", mas vivendo mesmo, e viver significa "mergulhar no drama". Só quem resolve "mergulhar" vai conseguir responder àquela que é a mais urgente das questões. Eu fico imensamente grato quando me dou conta de que não estou só com este drama. A nossa grandeza de cristãos não é porque somos bons ou melhores que os outros, mas porque não estamos sós, podemos viver com esperança e amar porque não estamos sós, estamos com uma presença - discretíssima - mas presente que nos acompanha e que é responsável até pelas batidas do nosso coração - que está conosco e nos anima, nos dá força! Quem tiver olhos para ver, que veja! Eu só sei que é esta presença em minha vida que me faz tão feliz e mais jovem, a cada ano que passa!

Um comentário:

Milton disse...

Grande Dimitri, parabéns!

Que cada momento de tua vida seja bem vivido.

Bem viver não é sinônimo de quantidade, mas de se viver a vida da forma mais intensa e verdadeira: na Presença do Senhor Jesus Cristo!

Abraços!!