quarta-feira, 15 de abril de 2009

A crise e a esperança


Jovem da obra "Pontos-Coração" em missão na Índia

Se alguém me perguntar "por que eu sou católico?", eu poderia responder na lata "porque Deus existe", mas acho que isso não diria muito aos nossos jovens de hoje, que têm as mentes e os corações cauterizados pelo poder. Mas eu bem poderia dizer: "porque eu encontrei uma realidade humana diversa e melhor do que tudo o que existe ao nosso redor, e a encontrei precisamente dentro da Igreja". Essa realidade diversa e melhor que a fé reconhece é amor. A Igreja é um "mistério de amor", diz o Papa Pio XII na encíclica Mysticis Corpus, e o amor - o dom de si para o bem do outro - é o que mais corresponde às exigências mais profundas do coração humano. E por isso eu sou católico, porque não existe realidade humana na qual isso se documente numa abundância extraordinária como na Igreja católica, quem tem olhos para ver que veja!
Por que digo tudo isso?
Estou muito provocado com um fato muito simples: amanhã, na Faculdade Social da Bahia, o padre Thierry, fundador da obra Ponto Coração, obra de compaixão e consolação, presente no mundo todo, à qual eu sou particularmente próximo, e sinto uma afeição especial, vai falar da compaixão como solução para a crise mundial.
A Beata Tereza de Calcutá já falava que o amor é capaz de destruir as bombas atômicas, que o aborto é maior forma de violência - porque é uma guerra contra crianças, o Papa João Paulo II na encíclica Dives in Misericordia afirmou que o mistério do mal só não destrói o mundo porque é barrado pela misericórdia de Deus, mas eu fiquei chocado com a afirmação do padre Thierry: a solução para a crise é a compaixão, é disso que ele vai falar amanhã.
Como o amor vai salvar o mundo financeiro?
Eu me lembrei de Vicky! A crise financeira mundial é uma crise de confiança e não está dissociada do culto à desconfiança espalhado em nossa sociedade, de alto a baixo, desconfiança porque qualquer um, a priori, pode ser inimigo de qualquer um, inimigo porque "o amor em muitos esfriou", como previu São Paulo, e qualquer um pode ser um potencial inimigo.
Portanto, a solução para a crise só pode ser a edificação de uma nova sociedade. O Papa Paulo VI falava que a missão da Igreja é a construção da civilização da verdade e do amor! O caso de Vicky é emblemático porque é o caso evidente de uma pessoa que ressurgiu e recuperou confiança nas pessoas e na vida a partir do reconhecimento de que "é amada infinitamente" e que "vale mais do que a própria doença". O racionalismo que impera desde o século XVII é incapaz de evidenciar o valor humano e contribui para uma sociedade onde predomina o cálculo e o utilitarismo.
A origem de tudo isso é uma postura da inteligência que não reconhece o fundamento da realidade. Chama-se ateísmo. Com o ateísmo, a realidade perde o sentido e é impossível o conhecimento, e por tabela, o amor (porque não se ama aquilo que não se conhece). Tudo torna-se reação voluntariosa e voluntarista do instinto ou do poder (o homem torna-se escravo do instinto ou do poder), justificada de modo sofisticado pelos ideólogos de plantão.
A saída só pode ser como o caso de Vicky, uma pessoa que ressuscitou porque se reconhece profundamente amada. Quem são as pessoas do Ponto Coração? Pessoas que, reconhecendo-se profundamente amadas pelo Mistério que faz toda a realidade e que torna-se presente numa comunidade precisa, deixam tudo, e vão pelo mundo, ser o rosto do amor. Eu mesmo fui objeto desse amor, dessa acolhida e dessa compaixão. No período mais negro da minha vida, em novembro de 2006, devo à minha vida, às pessoas do Ponto Coração que me acolheram e me abraçaram, em São Paulo: Arnaud, Cristiane e Graciele, eles foram o rosto bom do Mistério de Deus na minha vida, e a aprtir daquele momento, se iniciou um movimento de ressurreição em minha vida que continua até hoje!
A solução para esta crise financeira é a compaixão, é olhar para o homem, sofrer com ele, amá-lo! É mesmo o amor, embora às vezes eu seja tão ridicualrizado e taxado como utópico por isso! Cristo ressuscitou! Os jovens de Ponto Coração são a prova viva disso! E é de realidades como essa que brota a civilização do amor e são realidades como essa que se constituem numa esperança viva, inclusive para a economia, porque se pode muito bem construir uma economia a serviço do homem, e não contrária a ele.

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