quarta-feira, 20 de maio de 2009

O porquê da polêmica

Mais uma vez, meu último post suscitou uma pequena polêmica da qual eu não quero falar aqui. Só quero dizer o porquê, na minha opinião, Maria é a inimiga mortal do niilismo e porque pus este post.
Maria é o sinal mais do que evidente de que toda existência humana, terrena, carnal, concreta, seja ela qual for, tem um sentido, ou seja, um desígnio, é orientada com uma razão, um logos, isto significa que cada ação, até mesmo a aparentemente mais insignificante acontece dentro do Eterno, e por isso, é carregada de significado, é densa de sentido.
Maria nos chama, com a sua simples vida, e com o seu trabalho, como dona-de-casa, esposa de José e mãe de Jesus, à responsabilidade diante da totalidade do universo, porque diante dela somos ajudados, quase quie obrigados a perceber que cada gesto é eterno, cada gesto tem um quê de eternidade e um quê de divino, mesmo jogar bola ou tomar cerveja em um bar. Eu me dei conta disso uma vez, há alguns anos, numa refeição, comendo. Percebi que não mais poderia "deixar de comer o que já tinha comido". Isto significa que uma ação, qualquer que seja ela, por menor e mais aparentemente banal é eterna, não é retornável, é algo acontecido. Eu aprendi isso olhando a Virgem Maria, pois nela é transparente que cada ato, cada pensamento, cada gesto, cada palavra, tem um peso eterno, ela olha para a dimensão do eterno, do definitivo, e além de tudo isso, é para o mundo inteiro, para a totalidade, é a esse olhar e a essa perspectiva que ela nos educa simplesmente com a sua vida.
"Nenhum homem é uma ilha", diz o grande místico americano Thomas Merton, porque ninguém está isoldado, cada ato que fazemos é para o mundo inteiro. Tudo está emaranhado numa trama eterna que vai se descortinando aos poucos em nossa vida. Por isso, mesmo uma monja de clausura pode estampar um sorriso cheio de felicidade, como eu vi ontem à noite numa foto de um amigo meu, porque na verdade está cheia, repleta daquele Único que nos pode fazer feliz: Jesus Cristo, o Verbo do qual tudo procede, do qual tudo vem, e que passa pela Santíssima Virgem!
Maria sozinha esmaga todo o niilismo, todo o desespero, toda a negação da vida, porque nela tudo é adesão, tudo é reconhecimento, tudo é aceitação! Não é à toa que é chamada pelos místicos de "o terror do Inferno"! O terror do nada! O terror da nadificação! O terror da Dama Ideia, diria o poeta Bruno Tolentino! Ela sozinha é a fonte viva de esperança, como poetiza Dante Alighieri, ela sozinha "espolia o Inferno", esmaga Satanás, esmaga o mal, o absurdo, o non sense, o desespero. Esmaga porque é forte, porque é vitoriosa! Não é à toa que São João Damasceno, já no século VIII dizia que "a devoção à Maria é uma arma de salvação que Deus dá àqueles a quem quer salvar".
É inconcebível que uma menina pobre de um lugar tão obscuro seja hoje reconhecida pelo mundo inteiro e aclamada como a Rainha do Universo, e mais ainda como a Rainha dos Corações! O seu destino vitorioso nos enche de esperança! Nos enche de alegria! Ela é a causa da nossa alegria, com ela tudo adquire sentido, até o peso do trabalho, das fadigas, das derrotas e das tristezas, porque nela tudo é a descoberta de um bem realmente grande, do qual ela é o nosso portal. Tudo se faz descoberta dAquele Deus que deixou a metafísica e por meio dela, resolveu habitar entre nós! Por fim, finalizo com o Hino à Virgem, de Dante, na Divina Comédia, que exprime melhor do que eu tudo isso:



Virgem Mãe, filha de teu Filho, 
humilde e alta mais que qualquer criatura, 
termo prefixado de eterno desígnio, 

Tu és aquela que a natureza humana 
enobreceste de tal forma, que seu Criador 
não desdenhou fazer-se sua criatura. 

Em teu ventre reacendeu-se o amor, 
por cujo calor na eterna paz 
assim germinou esta flor. 

Aqui és para nós luz meridiana 
de caridade; e embaixo, entre os mortais, 
és fonte vivaz de esperança. 

Mulher, és tão grande e tanto vales, 
que quem deseja graças, e a ti não recorre, 
é como alguém que desejasse voar sem asas. 

A tua benignidade não apenas socorre 
quem pede, mas muitas vezes livremente 
e antecipa ao pedido. 

Em ti, misericórdia, em ti, piedade, 
em ti, magnificência, em ti se coaduna todo o bem 
que existe nas criaturas.
(Paraíso, canto XXIII, vv. 1-21)

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