terça-feira, 9 de junho de 2009

A razão da vida

Em abril, um amigo me fez a seguinte pergunta que cravou-se em mim, de alto a baixo: "Por que você vive?"
Ali foi uma verdadeira palavra de Deus. Porque São Paulo fala que a palavra de Deus é viva e eficaz, rasga de alto a baixo, separando juntas e medulas.
Por que vale a pena viver? Por que vale a pena trabalhar, acordar cada dia, enfrentar as circunstâncias alegres ou dolorosas?
"Por que você vive?"
Essa pergunta tornou-se minha: "por que eu vivo?"
Essa pergunta profundíssima é o que Heidegger chama de a exigência de autenticidade. É a pergunta do homem verdadeiro, do homem que inicia o caminho da santidade.
Hoje é o mundo do "se", diz Heidegger: come-se, trabalha-se, veste-se, diverte-se. Hoje vivemos no mundo da inautenticidade. O "eu" é dissolvido na turba e na multidão, na moda, na ideologia e na alienação. Então esta é a pergunta de quem deseja a vida-vida, e não o mundo do "se", é a pergunta de quem deseja ser verdadeiramente "si mesmo". Pois, que dará o homem em troca de si? - diz Jesus no Evangelho.
"Por que eu vivo?", poderia ser trocada pela frase: "o que me move? O que me põe em movimento?"A resposta só pode ser uma: foi e é um olhar, um abraço, um amor! Fui e sou amado, perdoado, acolhido, abraçado e resgatado por um olhar que chegou ao profundo da minha pessoa, e que transborda! Antes eu me movia querendo ser amado, hoje me movo porque eu fui e sou amado, e, portanto, a partir disso, me movo porque eu amo! Os meus movimentos, certos ou não que estejam, no fundo, são movimentos de amor, porque eu fui e continuamente sou amado, e que é objeto de amor, não pode deixar de ser sujeito do verbo amar. A imagem de Fra. Angélico acima é impressionante: Maria foi amada e abraçada por Deus de tal forma, que imediatamente partiu e foi visitar a sua prima Isabel, e passou três meses com ela, sendo a imagem viva da caridade ardente e viva!
Experimentei isso quando abracei Vicky em Nova York. Ela abraçou a mim, a minha pessoa - e não um abraço formal qualquer - porque ela mesma foi abraçada. Ela ama, porque foi e é amada, vive por um olhar, por um amor, e ela mesma ama agora. Vivo porque amo.
Vi uma história parecida com a de Vicky com uma senhora chamada Zaira, de Londrina, no Paraná, durante os Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação. Ela era uma pessoa que se considerava falida: divorciada, com problemas de relacionamentos com os filhos e por fim, teve a própria empresa destruída por um incêndio. Acabou se deprimindo. Mas, uma moça de São Paulo, Gislaine, que tem família por lá, a encontrou e confiou em seu potencial. Depois de muita insistência, esta senhora recuperou a confiança em si mesma, reconheceu que tinha um valor precioso e que não era definida pelas circunstâncias que passou, e desde então resolveu - confiando em Gislaine - apostar em vender bijuterias em São Paulo. O sucesso foi tanto que ela foi expor no Meeting de Rímini pela Amizade entre os Povos, e além de realizar o seu sonho de ir à Itália, não só conheceu, como conversou com Vicky. Depois ela disse: "assim como a Vicky foi salva pelo olhar da Rose, eu fui salva pelo olhar da Gislaine". Ela retomou o trabalho, e o mais bonito é que agora diz que contratou uma senhora que está com dificuldades financeiras para ajudá-la. Ela olhou para esta senhora como ela foi olhada antes. Por isso, todo o segredo está mesmo no "algo que vem antes". O amor gera amor, o protagonista gera protagonistas! Eu fico oomovido ouvindo histórias como estas! E o mais bonito de tudo é o sorriso de dona Zaira! Como diz Santo Irineu: "A glória de Deus é o homem vivo!"
Isso é como as obras de Cleuza. Quem faz uma obra como aquela? É de verdade quem foi amado até a medula. É de verdade quem ama Aquele que o amou primeiro. Por isso, os santos foram e são, antes de tudo, empreendedores, são homens e mulheres, que diante das necessidades do outro não souberam se contentar com as meias-medidas ou com a inautenticidade deste mundo, marcado pela indiferença e pelo egoísmo. Por isso, Giussani diz que o santo é o homem verdadeiro, é o homem autêntico, em é o homem-homem que vive a vida-vida, é aquele que transcende a inautenticidade que a maioria vive, e salva a História! O santo salva a História porque salva o homem! A razão da vida é o amor, é aceitar ser amado e amar! O amor a Cristo, o Divino Mendigo, que pede de joelhos para entrar na nossa vida, é a razão pela qual vale a pena viver! Porque "viver" só pode ser sinônimo de "amar".

Nenhum comentário: