quarta-feira, 29 de abril de 2009

O verdadeiro método para vencer a AIDS


Rose Busingye

O verdadeiro método para vencer a AIDS é fazer com que as pessoas se sintam amadas

Artigo publicado no jornal eletrônico Ilsussidiario.net
Entrevista com Rose Busingye


Discutir o problema da Aids a partir da redação dos jornais e dos escritórios políticos das diversas instituições européias é uma coisa; discuti-lo tendo diante dos olhos a situação de dezenas de mulheres soropositivas, e de seus filhos que foram contagiados, é toda uma outra coisa. Rose Busingye dirige o Meeting Point de Kampala, um lugar de renascimento para 4 mil pessoas, entre doentes e órfãos, que de outro modo estariam condenados a viver no silêncio e no abandono o destino dos marcados pelo HIV. Neste local de intensa humanidade, as polêmicas sobre o uso do preservativo para abater o flagelo da Aids chegam como um eco de longe.

Rose, que efeito tem em você ouvir tantas vozes polêmicas em torno de um problema com o qual a senhora luta todos os dias?
Quem alimenta a polêmica em torno das declarações do Papa deve, na realidade, entender que o verdadeiro problema da difusão da Aids não é o preservativo; falar nisso significa parar nas consequências e não ir nunca à origem do problema. Na raiz da difusão do HIV está um comportamento, está um modo de ser. E, além disso, não nos esqueçamos de que a grande emergência é conseguir formas de cura para as tantas pessoas que já contraíram a doença, e para aquelas o preservativo não serve.


Porém, continua o fato de que, de qualquer modo, se pode fazer qualquer coisa para evitar que o contágio se difunda ulteriormente: neste caso, a prevenção não é um instrumento útil?

Retomo um exemplo, para fazer entender como, verdadeiramente, por vezes não nos damos conta da situação na qual vivemos na África. Há algum tempo atrás, vieram alguns jornalistas para fazer uma reportagem sobre a atividade do Meeting Point: viram a condição das mulheres soropositivas que estão aqui e se comoveram. Decidiram então fazer-se úteis, fazendo um pequeno gesto para elas: presentearam-nas com algumas caixas de preservativos. Vendo isto, uma das nossas mulheres, Jovine, os olhou e disse: “Meu marido está morrendo e tenho seis filhos que, em pouco tempo, serão órfãos: de que me servem estas caixas que vocês me dão?”. A emergência daquela mulher e de tantíssimas outras como ela, é ter alguém que a olhe e diga: “mulher, não chore!”. É absurdo pensar em responder à sua necessidade com uma caixa de preservativos, e o absurdo está em não ver que o homem é amor, é afetividade.

E quanto às pessoas que possam ter relações com outras e difundir o contágio?
Também aí vale o mesmo discurso: é necessário, antes de tudo, olhar a humanidade deles. Uma vez, estávamos falando aos nossos meninos da importância de proteger os outros, de evitar o contágio; um deles se pôs a rir, dizendo: “mas que me importa quem são os outros? Quem são as mulheres com quem saio?”. E um outro dizia: “também eu fui infectado, e agora?”. A Aids é um problema como todos os problemas da vida, que não se pode reduzir a um particular. É necessário, antes de tudo, partir do fato de que é preciso ser educado também no viver a sexualidade. Mas a educação remete à descoberta de si mesmo: a pessoa que é consciente de si, sabe que tem um valor que é maior que tudo. Sem a descoberta deste valor – de si e dos outros – não há nada que tenha. Também o preservativo, ao final, pode ser bem utilizado apenas por uma pessoa que tenha descoberto qual o valor do humano, se ama verdadeiramente e se é amada. Pensa-se talvez que onde o preservativo é distribuído não prossegue o contágio da Aids? Enfim, em certos casos o discurso do preservativo, nas condições nas quais nos encontramos, pode parecer até ridículo.

Em que sentido?
Há poucos dias, por exemplo, mostramos a nossas mulheres o que é o preservativo, explicando inclusive as instruções de uso: antes de usá-lo deve-se lavar as mãos, não deve haver pó, deve ser conservado a uma certa temperatura. Foram eles mesmo que me interromperam: lavar as mãos, quando para ter um pouco de água devemos andar vinte quilômetros a pé? E depois tem o problema do pó: até mesmo um grão qualquer pode ser perigoso e arriscar o rompimento do preservativo. Mas, essas mulheres quebram pedras da manhã à noite, e têm a pele das mãos secas, rachadas e duras como a rocha! Por isso, digo que se fala sem conhecer minimamente o problema e as condições na qual nos encontramos.

À luz desta difusa ignorância em relação aos problemas reais das pessoas que vivem na África, que efeito têm as polêmicas contra o Papa?
O Papa não faz outra coisa que defender e sustentar justamente aquilo que serve para ajudar esta gente: afirmar o significado da vida e a dignidade do ser humano. Aqueles que o atacam têm interesses a defender, enquanto que o Papa não os tem: nos quer bem e quer o bem da África. Não é dele que vêm as minas que lançam para os ares nossos meninos, nossas crianças que viram soldados, que se encontram amputados, sem orelha, sem boca, incapazes de deglutir a saliva: e a eles o que damos, os preservativos?

De fato, a Aids não é o único problema que atinge a África.
Existem muitíssimos outros problemas e situações trágicas sobre as quais há total indiferença. Quando, há alguns anos, ocorreu o genocídio em Ruanda, todos estavam observando. Aqui perto existe um país pequeniníssimo, que podia ser protegido e nada foi feito: lá estavam os meus parentes e morreram todos de modo desumano. Ninguém se moveu e agora vêm aqui com os preservativos. Mas, também no nível das doenças, vale o mesmo discurso: por que não nos trazem as aspirinas ou os remédios contra malária? A malaria é uma doença que aqui vitima mais pessoas que a Aids.

Qual a situação de agora, na Uganda, em relação à difusão da Aids?
Em Uganda se estão fazendo grandes progressos e o nosso presidente está trabalhando muito bem e obtendo ótimos resultados. O seu método não é apostar na difusão dos preservativos, mas na educação: instituiu um ministério para isso e colocou pessoas nas vilas de analfabetos para educá-las a uma mudança de vida. A esposa do presidente esteve aqui conosco há pouco tempo e disse com força que o verdadeiro ponto que pode fazer mudar a situação é parar de viver como os cães e os gatos, que devem sempre satisfazer a seus instintos; e falou do fato que o homem é dotado de razão, que o faz responsável por aquilo que realiza. Se o homem continua ligado ao instinto como um animal, dar a ele um preservativo não serve a nada. Mudar as condutas. Este é o método que está dando resultados e teve como consequência o fato de que a difusão da Aids em Uganda baixou de 18% a 3% da população. O método funciona e o coração do método é fazer de um modo tal que as pessoas se sintam queridas. O vemos aqui, no Meeting Point: quando as pessoas chegam aqui não querem mais ir embora.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A crise e a esperança


Jovem da obra "Pontos-Coração" em missão na Índia

Se alguém me perguntar "por que eu sou católico?", eu poderia responder na lata "porque Deus existe", mas acho que isso não diria muito aos nossos jovens de hoje, que têm as mentes e os corações cauterizados pelo poder. Mas eu bem poderia dizer: "porque eu encontrei uma realidade humana diversa e melhor do que tudo o que existe ao nosso redor, e a encontrei precisamente dentro da Igreja". Essa realidade diversa e melhor que a fé reconhece é amor. A Igreja é um "mistério de amor", diz o Papa Pio XII na encíclica Mysticis Corpus, e o amor - o dom de si para o bem do outro - é o que mais corresponde às exigências mais profundas do coração humano. E por isso eu sou católico, porque não existe realidade humana na qual isso se documente numa abundância extraordinária como na Igreja católica, quem tem olhos para ver que veja!
Por que digo tudo isso?
Estou muito provocado com um fato muito simples: amanhã, na Faculdade Social da Bahia, o padre Thierry, fundador da obra Ponto Coração, obra de compaixão e consolação, presente no mundo todo, à qual eu sou particularmente próximo, e sinto uma afeição especial, vai falar da compaixão como solução para a crise mundial.
A Beata Tereza de Calcutá já falava que o amor é capaz de destruir as bombas atômicas, que o aborto é maior forma de violência - porque é uma guerra contra crianças, o Papa João Paulo II na encíclica Dives in Misericordia afirmou que o mistério do mal só não destrói o mundo porque é barrado pela misericórdia de Deus, mas eu fiquei chocado com a afirmação do padre Thierry: a solução para a crise é a compaixão, é disso que ele vai falar amanhã.
Como o amor vai salvar o mundo financeiro?
Eu me lembrei de Vicky! A crise financeira mundial é uma crise de confiança e não está dissociada do culto à desconfiança espalhado em nossa sociedade, de alto a baixo, desconfiança porque qualquer um, a priori, pode ser inimigo de qualquer um, inimigo porque "o amor em muitos esfriou", como previu São Paulo, e qualquer um pode ser um potencial inimigo.
Portanto, a solução para a crise só pode ser a edificação de uma nova sociedade. O Papa Paulo VI falava que a missão da Igreja é a construção da civilização da verdade e do amor! O caso de Vicky é emblemático porque é o caso evidente de uma pessoa que ressurgiu e recuperou confiança nas pessoas e na vida a partir do reconhecimento de que "é amada infinitamente" e que "vale mais do que a própria doença". O racionalismo que impera desde o século XVII é incapaz de evidenciar o valor humano e contribui para uma sociedade onde predomina o cálculo e o utilitarismo.
A origem de tudo isso é uma postura da inteligência que não reconhece o fundamento da realidade. Chama-se ateísmo. Com o ateísmo, a realidade perde o sentido e é impossível o conhecimento, e por tabela, o amor (porque não se ama aquilo que não se conhece). Tudo torna-se reação voluntariosa e voluntarista do instinto ou do poder (o homem torna-se escravo do instinto ou do poder), justificada de modo sofisticado pelos ideólogos de plantão.
A saída só pode ser como o caso de Vicky, uma pessoa que ressuscitou porque se reconhece profundamente amada. Quem são as pessoas do Ponto Coração? Pessoas que, reconhecendo-se profundamente amadas pelo Mistério que faz toda a realidade e que torna-se presente numa comunidade precisa, deixam tudo, e vão pelo mundo, ser o rosto do amor. Eu mesmo fui objeto desse amor, dessa acolhida e dessa compaixão. No período mais negro da minha vida, em novembro de 2006, devo à minha vida, às pessoas do Ponto Coração que me acolheram e me abraçaram, em São Paulo: Arnaud, Cristiane e Graciele, eles foram o rosto bom do Mistério de Deus na minha vida, e a aprtir daquele momento, se iniciou um movimento de ressurreição em minha vida que continua até hoje!
A solução para esta crise financeira é a compaixão, é olhar para o homem, sofrer com ele, amá-lo! É mesmo o amor, embora às vezes eu seja tão ridicualrizado e taxado como utópico por isso! Cristo ressuscitou! Os jovens de Ponto Coração são a prova viva disso! E é de realidades como essa que brota a civilização do amor e são realidades como essa que se constituem numa esperança viva, inclusive para a economia, porque se pode muito bem construir uma economia a serviço do homem, e não contrária a ele.

sábado, 11 de abril de 2009

A derrota do nada

Na sua brilhante filosofia ateia, Sartre chegou à conclusão de que "a morte é a nadificação total dos nossos projetos", portanto a vida seria "absurda", e "uma paixão inútil". Tudo isso é fruto de uma filosofia do ateísmo (e portanto, do absurdo, porque o ateísmo é tão absurdo quanto um círculo-quadrado - a palavra "a-teu" significa "sem-sentido", porque Deus é o Sentido e a Razão) coerentemente desenvolvida e levada às últimas conseqüências.
Mas hoje se faz memória de um fato que quebra com todas os pensamentos sartreanos, embora estes sejam concatenados! Hoje se comemora o fato mais inaudito, mais inesperado, e ao mesmo tempo o mais correspondente, o mais fascinante e o mais desconcertante de todos os tempos: um homem ressurgiu por seu próprio poder, da morte!
Para a nossa raiva, ou para a nossa paz, a História foi atravessada pelo anúncio desse fato, que é como a "luz" no meio da noite, e que nos desconcerta, porque ele é o fio da navalha das nossas vidas. O apóstolo São Paulo já dizia: "Se Cristo não ressuscitou, os mortos não ressuscitam, é vã a nossa fé e nós somos os mais infelizes dos homens!"
Mas a noite de hoje é especial: Cristo ressuscitou, com a Sua morte destruiu a morte, e nós podemos ver que isso é verdade graças à nossa vida.
A Ressurreição hoje é mais forte do que há 2000 anos! Seu poder chega até os últimos rincões da África, atingiu uma moça chamada Vicky, às portas da morte por causa da Aids, que foi fulminada pelo olhar amoroso de uma cristã, Rose, olhar amoroso que era o próprio Jesus, que está vivo, e se identifica com a Sua Igreja hoje. Esta mulher, abraçada no mais íntimo do seu ser, foi reerguida do nada para o qual afundava por um olhar que lhe disse "você é maior que a sua doença!"
Esta mulher estava nos Estados Unidos contando a sua história, em palestras intituladas Razões para a esperança, e eu mesmo, na Sociedade Bíblica Americana, em Nova York, por volta das oito da noite, do dia 24 de fevereiro deste ano, fui abraçado por esta mulher, e pude experimentar em mim mesmo o abraço do qual ela foi objeto. Eu fiquei extremamente grato e reconheci: "A Ressurreição me abraçou! Eu fui abraçado pela Ressurreição!" Eu posso crer porque eu vejo, a força da ressurreição em ato.
Não há uma terceira alternativa: a vitória ou é da morte, isto é, do nada, ou a vitória é daquele que ressurgiu na manhã da Páscoa! Eu posso dizer, porque vejo: "Cristo ressuscitou!" E entoar aquele grito que emerge do mais profundo do humano: "Aleluia!" O nada foi derrotado, para sempre!