quarta-feira, 12 de maio de 2010

A capa da Veja e a visita do Papa a Portugal

Dois fatos aparentemente desconexos acontecem durante esta semana: o Papa Bento XVI, extremamente atacado por força dos escândalos de pedofilia no interior da Igreja Católica, está em visita de 4 dias a Portugal, por ocasião da comemoração dos dez anos da beatificação de dois dos três pastorinhos que viram Nossa Senhora em Fátima, em 1917 (Francisco e Jacinta, mortos em 1919 e 1920, pois Lúcia veio a falecer somente em 2005, aos 98 anos). Ao mesmo tempo, porém, a revista Veja, publicação semanal de maior tiragem no Brasil, vem a público mostrar, nada mais nada menos, como é bom ser jovem e gay! É impressionante como ao mesmo tempo que toda a mídia e a sociedade condenam com tanta veemência a pedofilia (que é em si mesma totalmente execrável e condenável, diga-se de passagem), a Veja faz uma apologia totalmente aberta à homossexualidade adolescente, apresentando a tolerância como "sinal de avanço" que, sinceramente, me levou a ficar chocado na segunda-feira, quando li a reportagem.

Quem me conhece sabe muito bem que eu não tenho nenhum problema com quem é ou deixa de ser gay. Esta é uma questão de ordem privada e que envolve os mistérios da profundidade da sexualidade humana. Na minha opinião, a questão central não é essa. O ponto é que existe uma ideologia em nossa sociedade querendo se afirmar a todo custo. Chama-se a ideologia de gênero, filha da ideologia da construção social da realidade, que nega qualquer primado à natureza. Ou seja, para esta ideologia e seus ideólogos e seguidores, qualquer realidade humana (inclusive as que envolvem o corpo, como também a experiência da maternidade), não é um dado ao qual se deve aderir, mas em verdade, seria apenas uma mera construção social na qual deve-se prescindir do dado, podendo-se construir qualquer coisa, tendo como único padrão a ilimitada capacidade da criatividade humana (traduzida como "diversidade" e respeito à mesma no mundo do politicamente correto).

Na nossa época pós-iluminista, evita-se prescindir do dado porque, no fundo, o grande desejo que quem detém o poder é evitar o reconhecimento da dependência original da realidade (porque esta é a única forma de libertar-se do poder constituído: aderir ao real). Evita-se assim, inteligwentemente, perceber o fato mais óbvio que é o fato de que, da mesma forma que não escolhemos simplesmente vir ao mundo, também não escolhemos vir homem ou mulher, isto é um dado. Por mais que existam uma série de complexidades que se insinuam nas profundezas da psiquê e da história humana, não se pode partir para enfrentar o problema prescindindo deste dado original. Porque qualquer solução seria incompleta e portanto, mentirosa, ou seja, ideológica. Outra coisa na qual se vê o dedo, as mãos e os braços do Iluminismo é a insistência das rotulações, na separação entre as pessoas humanas, classificando-as como "homo" ou "heterossexuais", e na transformação daquilo que é uma "atividade" (as práticas sexuais) em uma "identidade" (o caráter, o ser, o eu), como se a pessoa humana se reduzisse àquilo que ela faz. E não é à toa que surgem aí classificações ainda mais "detalhadas": bissexuais, transexuais, assexuais, pansexuais... e a lista não termina! E mesmo os que tentam afirmar-se "hetero" a qualquer custo caem da armadilha da ideologia de gênero e do Iluminismo, pois se você cede aos termos e táticas do adversário, você já compactou com ele, e portanto, a derrota é uma mera questão de tempo.

O Papa hoje é atacado justamente porque, neste mundo pós-iluminista dominado pelas ideologias e pelo relativismo, é talvez, a única voz que emerge para denunciar esta redução do humano que é operada por quem detém o poder: afirma o fato primordial de que, antes de sermos heteros, homos ou qualquer outra classificação exterior, somos "filhos de Deus", criados por Ele, e que o nosso caráter de criatura é evidentemente mostrado pela nossa fragilidade e acima de tudo, pela nossa mortalidade. A nossa própria morte é a maior evidência contra a loucura dos Iluministas, porque a maior prova que nós não nos fazemos é o aparente muro da morte, o qual ninguém quer atravessar. Toda essa desconsideração pela nossa realidade (criatural, frágil e mortal) é fruto do paganismo que pouco a pouco avança, especialmente entre os jovens. Não é à toa que a depressão avança e já atinge 121 milhões de pessoas. Pois a depressão é fruto da perda da esperança, e a perda da esperança é fruto da perda da certeza de algumas grandes coisas, especialmente a certeza de que a vida, apesar de todo o seu drama é boa, e um Pai amoroso nos espera no abraço final que será a nossa morte e a nossa ressurreição.

É a perda de todas estas certezas que está afundando a nossa civilização, está dizimando a Europa, e fazendo as trevas do paganismo retornarem com  força cada vez mais maior. Bento XVI é hoje um verdadeiro farol, que ilumina, aquece, anima e direciona este mundo cada vez mais escuro, frio, desanimado e desnorteado! Me lembro a emoção que tive quando o vi pela primeira vez em São Paulo, em 2007, e desejo com cada vez mais força, vê-lo em 2011, em Madrid, se Deus assim o quiser. Porque ele é o verdadeiro profeta que o próprio Senhor da História nos dá nesta época tão tenebrosa quanto hipócrita! Que possamos escutá-lo e nos converter! Contra a instrumentalização da complexa sexualidade humana perpetrada de forma vil e cínica hoje, a única coisa que podemos fazer é nos converter, olhar o Senhor e pedir a Ele que nos ensine a amar de forma verdadeira!

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