quarta-feira, 9 de junho de 2010

A coisa mais importante da vida

Há alguns dias ouvi do meu grande amigo, o padre Julián de la Morena, uma daquelas frases que certamente nos acompanharão pela vida inteira. Lembro-me como hoje quando ele olhou para mim e me disse: "A coisa mais importante da vida é um amigo!" Na sexta-feira passada eu vivi uma experiência impressionante que tornou carne de uma forma única esta frase de Julián de la Morena: outro grande amigo meu, Cesco, me chamou para ir com um grupo de amigos escalar o Pico das Agulhas Negras, em Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro.

Esta escalada - uma coisa que eu sempre quis fazer - foi uma das coisas mais difíceis de toda a minha vida, mas foi precisamente ali que eu entendi de uma forma única o valor de um amigo, o valor de uma companhia, e mais ainda o valor de uma companhia guiada. Como não ficar grato pela amizade com o padre Marco, apaixonado pelo montanhismo que a toda se preocupava em saber como eu estava, me ensinar os passos, ou me dar a mão quando eu não conseguia subir? Ou ainda a companhia de Cesco, que várias vezes me disse "levanta e vai!", ou ainda a companhia da Silvana que organizou todo esse passeio?

Foi uma subida íngreme e extremamente difícil, saí com praticamente todos os meus músculos doloridos, mas eu estava contente, porque tinha superado um limite, atravessado as colunas de Hércules, como Ulisses, e aprendido muitas coisas nesta caminhada. Porque a montanha é como a nossa vida. Nossa vida é um caminho difícil, muitas vezes íngreme, áspero e frio, rumo a uma meta que nos dá uma visão maravilhosa. Muita gente pára porque vai só, se perde, ou não tem confiança, ou entra em pânico, como eu vi gente parar por medo ou pânico no meio do caminho. Só chegou até o topo quem estava em companhia e confiava no guia. Só quem arriscou seguir chegou.

Mas outra coisa que me dei conta nos últimos dias foi que, se a amizade é uma graça, é um dom do Mistério, também é fruto de um trabalho. Nestes últimos dias, tenho (por graça) passado para uma postura agressiva. Isso a montanha me ensinou. A procura por trabalho também tem ensinado. Levar em conta o próprio humano, reconhecer a própria pequenez nos leva a uma postura agressiva diante da realidade! Isso é uma coisa impressionante! Porque se eu sou livre, sou também responsável! Responsável diante do cosmos e da História! Não posso simplesmente sofrer as agressões que a realidade porventura pode me fazer, mas devo lutar com ela, ser agressivo, como Jacó que lutou com o Anjo no vau do Jaboque, que disse ao Anjo "não vou te largar enquanto não me abençoares!" Com a realidade minha postura tem se tornado assim e eu tenho pedido isso sempre em minhas orações, a graça de não me deprimir, mas lutar, guerrear! Como me disse Julián de la Morena: "É a guerra!" A guerra me deixa contente! Não é à toa que o que mais me entusiamou no estudo da História foi a Guerra da Reconquista (732-1492),  a partir da qual surgiram os Reinos da Espanha e Portugal, a nossa América Latina, e a minha própria vida. Eu mesmo não existiria se não se fosse a Guerra da Reconquista, por isso eu sou fascinado por ela! Depois da graça, a guerra! O primeiro trabalho é a construção desta amizade! Ter visto a amizade entre a amizade entre Marcos, Cleuza e o padre Aldo tem me animado a isso! Ter almoçado com Cleuza e os associados da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo (ATST) e ver o milagre, esta amizade impressioanante, que já começa aqui e agora, neste mundo, também! Porque, se a coisa mais importante da vida é um amigo, a vida sem amigos, não é vida, mas somente uma pálida e triste imitação da vida!