terça-feira, 13 de julho de 2010

A morte de Eliza e a exigência de justiça

O nome "Eliza" é uma variante do nome "Isabel", ou "Elizabeth", ou ainda "Elise", e significa "aquela que se dedica a Deus". Mas desta vez, Eliza nos lembra outra coisa. O infeliz caso acontecido com Eliza, que se envolveu de forma trágica com Bruno, ex-goleiro do Flamengo é um soco na cara de todos. Para mim, um soco maior foi ver, diante de mim, Cleuza dizendo "estou revoltada com isso! Vamos organizar logo uma manifestação!" Ali eu me dei conta de como eu já estava me acostumando com as coisas terríveis que vêm acontecendo, que a gente logo naturaliza!

Eliza foi uma jovem de 25 anos, que se envolveu com o ex-jogador do Flamengo Bruno, e engravidou do mesmo. Este propôs que ela abortasse. Ela não só teve o filho, como lutava pelo reconhecimento da paternidade. O pai da criança resolveu esta situação sequestrando, prendendo, torturando, matando asfixiada e esquartejando a mãe da criança; e por fim, atirando partes de seu corpo para cães rottweillers comerem. Um crime bárbaro, chocante, humilhante, frio até não poder mais, que revela o índice de violência ao qual estamos submetidos nós, nesta etapa da História.

Bruno é uma síntese do que está acontecendo com muitas pessoas: estão sendo enganadas, pois uma mentalidade dominante afirma que terão os desejos satisfeitos por uma série de coisas que não têm esse poder. Bruno era, nos padrões pós-modernos, um jovem bem-sucedido que teve aquilo que muitos almejam como a sua realização e felicidade máximos: dinheiro, fama, prestígio, mulheres e sexo. Mas é justamente aqui que emerge a pergunta: por que um jovem destes de apenas 25 anos mata outra jovem da mesma idade, com a qual teve um filho, com um requinte de crueldade tão extremo?

Alguns podem, infelizmente, responder ao problema, de forma cínica e simplista, dizendo que ele a "eliminou" porque ela estaria sendo um "problema" para ele. Isto somente em parte é verdade, mas ainda não explica a origem da crueldade, da barbárie e do horror. O que é que está faltando?

A tragédia de Eliza nos ajuda a entender a natureza da nossa falta. O que faltava a Bruno? Este é o ponto de partida, porque Bruno, evidentemente, é uma pessoa extremamente insatisfeita, porque uma pessoa feliz não pratica um ato como estes.

Mas, e o que é que satisfaz o espírito? O de Bruno? E o nosso também? O que fatos como estes comprovam é que o mundo pós-moderno "vende gato por lebre", prometendo os maiores prazeres, e oferecendo, na verdade, as maiores dores. A única saída para tudo isso é o conhecimento da verdadeira natureza do nosso desejo: o que pode satisfazer a nossa exigência de justiça diante de um crime bárbaro destes? Quem vai fazer justiça à Eliza? Porque, se a justiça não for feita a ela, não interessa, ainda não será justiça.

Não há alternativa: ou reconhecemos um "além" no qual a justiça poderá acontecer ou a palavra "justiça" bem que poderia ser tranquilamente riscada do dicionário. E aí é que aparece a tarefa dos cristãos: Cristo se propõe como "o além no aquém". Portanto, a única possibilidade de justiça é Cristo, é reconhecer Cristo. Por isso que o apóstolo Paulo fala de forma tão categórica: "A justiça é a fé!" Não há a mínima possibilidade de justiça sem o reconhecimento do Além que entra no aquém e se faz presente, abrindo espaço para outras possibilidades; possibilidades estas muito mais correspondentes ao coração humano, como o perdão, a misericórdia e a ressurreição.

O que falta, portanto, a estes tempos confusos ao extremo e pós-modernos, é a fé. Mas não uma credulidade que acontece como auto-sugestão, como tantos pregam por aí, o que falta é um reconhecimento verdadeiro por parte da inteligência, da razão, de quem é Cristo, do que Cristo trouxe e traz a este mundo: perdão, misericórdia, ressurreição, novas possibilidades. Cristo vem abrir o círculo fechado pelo mal, vem, como diz São João, "destruir as obras do diabo". As obras do paganismo, da idolatria, da mentira, da morte, do niilismo, do non sense, do desespero; da pós-modernidade, enfim.

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