quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um operário em construção

Uma das descobertas mais libertadoras, do ponto de vista tanto psicológico quanto existencial, é a descoberta do "eu sou Tu-que-me-fazes". Esta é uma descoberta maravilhosa, porque é justamente ela que nos liberta da maior de todas as tentações, que é a de achar que "eu já estou pronto". Pensar "eu estou pronto" significa, psicologicamente, dizer "eu sou Deus", "eu sou o determinante de tudo". Reconhecer "eu sou feito", por outro lado, abre a uma vertigem imensa, mas ao mesmo tempo, a uma esperança extraordinária, porque, se eu não estou pronto, se estou em construção, significa que o melhor está por vir, ou como se diz no ditado latino "o fim coroa a obra".

Isto que estou falando pode parecer mera divagação intelectual, mas se paro para pensar na minha vida, nestes últimos sete meses, nos quais já morei em três cidades, encontrando todo tipo de gente, trabalhando, me afeiçoando às pessoas e ao trabalho... Se eu olho a minha vida a partir do fato que determina a História, que é a Ressurreição triunfal do Senhor na manhã da Páscoa, se eu olho a realidade com este juízo, me dando conta desta Presença vitoriosa, como não olhar para a minha vida e não me perguntar: "Quem é você? E quem sou eu?"

Porque é muito óbvio achar que já sabemos quem somos, e no entanto, estamos sendo feitos. Há alguns dias, um amigo me disse que eu estava sendo "lapidado como uma espada". É evidente, para mim, cada vez mais me dar conta exatamente disso: de que por meio de toda circunstância, alegre ou dolorosa (a vantagem da dor é que ela te impede de distrair-se), é que somos feitos.

Eu penso em mim mesmo: estou aqui na "pauliceia desvairada", como dizia Mário de Andrade, me tornando um "operário em construção", como cantou Vinícius! Eu sou Tu-que-me-fazes! Como é comovente dizer isto! Como é comovente tornar-se carne o que disse São Paulo "estou cheio de alegria em minha tribulação!" Como me enche de alegria os meus próprios filhos crescerem e me fazerem companhia, até por meio de uma mensagem que li às três da manhã! Como me enche de comoção estar diante da Eucaristia, no Mosteiro de São Bento clamando "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!" Eu sou Tu que me fazes! É o juízo que domina em mim, estes dias! E como são minhas, estes dias, as palavras do padre Aldo, de que este juízo é fruto da graça dessa dor imensa e dessa amizade maravilhosa! Na verdade, mais do que "um operário em contrução", sou "um 'eu' em contrução", porque, de fato, é verdade: é a obra que faz o eu, não é o eu que se expressa na obra! Que descoberta extraordinária: é o trabalho que constroi o meu eu, é o relacionamento com a realidade que me faz, instante após instante, aqui e agora!

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