segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Marxismo e cristianismo

Minha primeira forte oposição ao marxismo é porque este declara-se ateu, pondo a religião como ópio do povo, e apresentando o homem como "construindo-se a sim mesmo por meio do trabalho" (o contrário da fé cristã). Lenin diz: “O marxismo é o materialismo. Por este título ele é tão implacavelmente hostil à religião, quanto o materialismo dos enciclopedistas do século XVIII ou o materialismo de Feuerbach. (...) Devemos combater a religião. Isto é o a-b-c de todo o materialismo e, portanto, do marxismo. (...) Nossa propaganda compreende necessariamente a do ateísmo”. Lenin assim se manifestou também, em 1905: “A religião é uma espécie de má vodka espiritual no qual os escravos do Capital afogam seu ser humano e suas reivindicações para com uma existência ainda pouco digna do homem”. Deste ponto de vista, compreende-se que o marxismo como pensamento é completamente incompatível com o cristianismo ou mesmo com o reconhecimento do Mistério criador.

Enquanto isso, o Apóstolo Paulo disse, no Areópago de Atenas, o centro mundial da cultura naquela época: "Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio! O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós. Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça... Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra lavrada por arte e gênio dos homens. Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, convida agora a todos os homens de todos os lugares a se arrependerem. Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos." (Atos 17, 22-31)

Sobre o que é o homem, diz Marx: "Um ser se considera independente somente quando é dono de si, e é dono de si somente quando é devedor a si mesmo da própria existência. Um homem que vive da graça alheia considera-se como um ser dependente. Mas eu vivo completamente da graça alheia quando sou devedor para com o outro, não somente do sustento de minha vida, mas também quando este, além disso, criou a minha vida, é a fonte da minha vida; e a minha vida tem necessariamente um tal fundamento fora de si, quando não é a minha própria criação (...) Sendo que para o homem socialista toda a assim chamada história do mundo nada mais é se não a geração do homem por meio do trabalho humano, nada mais que o porvir da natureza do homem, ele tem a prova evidente, irresistível, do seu nascimento através de si mesmo, do processo de sua origem" (MARX, 1968, Manuscritos econômico-filosóficos, pp.122-125).

Isto vai de encontro ao que diz a Revelação, em Gênesis 1, 27-29: "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. Deus disse: Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento". E também em Gênesis 2, 7: "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente". Para a Revelação o homem é criado por Deus e dependente dEle, ou retomando São Paulo "porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser" (Atos 17, 28). A oposição entre marxismo e cristianismo não é apenas ideológica ou uma mera questão de opiniões, ela é ontológica. Ambos são radical e profundamente antípodas um do outro, como tentei mostrar.