sexta-feira, 30 de julho de 2010

A terra da busca pela felicidade

São Paulo é uma cidade única. "O mundo inteiro está lá", dizia o poeta Bruno Tolentino. Eu adoro cidades, nasci para viver nelas, não sou bucólico, sou totalmente urbano, gosto de prédio, de carro, de agitação, de corre-corre, de metrô. Quanto maior a cidade, para mim, melhor. Gosto tanto de cidades que quando estive em Nova York, chegava a ficar longas onze horas caminhando pela ilha de Manhattan, porque mais do qualquer outra coisa, em Nova York, a cidade em si mesma, é a grande atração da jogada.

Dá para entender assim o quanto estou gostando de caminhar e apreciar a cidade, especialmente a sua parte mais antiga, que é o centro. Eu mesmo já vim inúmeras vezes a São Paulo, é uma cidade da qual eu gosto, mas um gosto que eu nunca entendi. Esta é uma pergunta que sempre me ficou aberta: "por que que eu gosto tanto desta cidade? O que é que tem aqui?"

Andando pelo centro da cidade, buscando trabalho, eu penso que descobri. É porque São Paulo não somente é a terra das oportunidades, é a terra da busca pela felicidade. E o que é a felicidade senão o conhecimento de Jesus Cristo, Aquele que venceu a morte? Porque, se de fato, como diz o apóstolo São Paulo, o movimento dos povos é na verdade a busca pelo sentido, pelo destino, pelo significado; em São Paulo como em nenhuma outra cidade brasileira, isto se vê com uma clareza solar. A cidade é um canteiro de obras a céu aberto. Cada um aqui tenta ser feliz a seu modo, mas tudo no fundo é uma busca nervosa pela felicidade, que se expressa no trabalho. Trabalhamos para que, se não é para sermos felizes?

Mas o que mais me emociona em São Paulo são as torres das igrejas. A Catedral gótica é belíssima e imponente, mas ao longo de toda esta gigantesca cidade é muito confortante ver as torres das igrejas no meio dos prédios anunciando a Presença que destruiu a morte e nos faz companhia, mesmo na selva de pedra. Aqui, as pedras falam. As torres das igrejas anunciam que Cristo ressuscitou e gritam ao céu: "Maranatha! Vem, Senhor!"

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O sucesso de Eclipse e a cultura da morte

A saga Crepúsculo, do qual Eclipse é o terceiro livro e filme está fazendo um sucesso tremendo entre os adolescentes. Basta notar, para se dar conta disso, o número de salas que estão exibindo o filme e a quantidade de pessoas que já o assistiram ou ainda vão assistir. Há alguns dias vi no Twitter uma pessoa que twittou assim: "vou assistir agora a Eclipse para comemorar o término da escrita do meu artigo".

A pergunta que eu me faço diante desses fatos é a seguinte: qual a razão desse sucesso tão estrondoso, que não é somente objeto da moda ou fruto da "imposição cultural americana"? Acusar Eclipse disso é uma superficialidade gigantesca. O fenômeno Eclipse não é algo superficial ou meramente ideológico, como pensam alguns, taxando de "alienação" o seu consumo em massa. Eclipse faz sucesso por uma razão muito simples: ecoa os anseios do coração humano, ecoa os anseios do coração dos adolescentes, que é a fase no qual está mais premente a emergência dos desejos mais profundos do coração humano. Dizendo de outra forma: Eclipse faz sucesso porque encontra, no coração adolescente, uma tremenda correspondência.

Um amigo me disse que o sistema capitalista faz sucesso porque "joga" com os desejos do coração, mercantiliza-os, tenta reduzi-los a uma mercadoria que supostamente iria satisfazê-los, joga com o fenômeno que a Bíblia condena taxando-o de "idolatria", aquilo que não mantém as promessas para as quais parece feito.

Um desejos mais latentes no nosso coração é justamente a liberdade. É aqui que se encontra o fascínio exercido pela saga Crepúsculo. A libertação de uma vida que oprimiria os nossos desejos mais profundos se daria por meio da absurda "imortalidade por meio da morte", que é exatamente o inverso da Ressurreição acontecida na Páscoa. O vampirismo exerce um fascínio quase irresístivel porque joga com o nosso desejo de liberdade, imortalidade e juventude. A morte, a passagem para a "vida vampírica", é vista aqui não como "o último inimigo a ser vencido", como afirmou o apóstolo Paulo, mas é diabolicamente apresentada como "a solução de todos os problemas". Não é à toa que o símbolo da saga é a "maçã", símbolo da falsa promessa feita pela serpente a Adão e Eva. Trocando em miúdos, isto significa que o fascínio que Eclipse exerce expressa o fascínio exercido pela morte e pelo nada, no tempo pós-moderno que nega a realidade e aquilo que existe, pregando o refúgio no escapismo de sonhos, fantasias e estados mentais perturbados.

Um dos livros mais emocionantes que eu li foi Drácula, de Bram Stocker. Li 400 páginas em apenas uma semana. Eu estava numa fase difícil da minha vida, e toda aquela treva de alguma forma me atraía. Foi só começar a experimentar "uma febre de vida" que estas coisas deixaram de me atrair. Porque é assim que acontece com quem leva minimamente a vida a sério, e se deixa interpelar pelas próprias exigências de verdade, felicidade, justiça e amor. Mas nossa época, que tenta a todo custo sufocar as exigências mais elementares do coração, se configura como o tempo da banalidade e do cinismo. A pós-modernidade é verdadeiramente o tempo de surgir uma saga como Crepúsculo, que na verdade é um "vampirismo adocicado", ou um "niilismo soft". Exatamente o inverso do niilismo explícito da Lady Gaga, mas no fundo é a mesma coisa. A evidência disso é o sucesso de ambos. A única realidade que derrota o pós-moderno é uma amizade que não tem medo do nosso coração, que nos desafia sem cessar, e que nos obriga a levarmos a nós mesmos a sério. Esta amizade é a derrota do pós-moderno e a realidade mais temida por aqueles que detém o poder hodiernamente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um operário em construção

Uma das descobertas mais libertadoras, do ponto de vista tanto psicológico quanto existencial, é a descoberta do "eu sou Tu-que-me-fazes". Esta é uma descoberta maravilhosa, porque é justamente ela que nos liberta da maior de todas as tentações, que é a de achar que "eu já estou pronto". Pensar "eu estou pronto" significa, psicologicamente, dizer "eu sou Deus", "eu sou o determinante de tudo". Reconhecer "eu sou feito", por outro lado, abre a uma vertigem imensa, mas ao mesmo tempo, a uma esperança extraordinária, porque, se eu não estou pronto, se estou em construção, significa que o melhor está por vir, ou como se diz no ditado latino "o fim coroa a obra".

Isto que estou falando pode parecer mera divagação intelectual, mas se paro para pensar na minha vida, nestes últimos sete meses, nos quais já morei em três cidades, encontrando todo tipo de gente, trabalhando, me afeiçoando às pessoas e ao trabalho... Se eu olho a minha vida a partir do fato que determina a História, que é a Ressurreição triunfal do Senhor na manhã da Páscoa, se eu olho a realidade com este juízo, me dando conta desta Presença vitoriosa, como não olhar para a minha vida e não me perguntar: "Quem é você? E quem sou eu?"

Porque é muito óbvio achar que já sabemos quem somos, e no entanto, estamos sendo feitos. Há alguns dias, um amigo me disse que eu estava sendo "lapidado como uma espada". É evidente, para mim, cada vez mais me dar conta exatamente disso: de que por meio de toda circunstância, alegre ou dolorosa (a vantagem da dor é que ela te impede de distrair-se), é que somos feitos.

Eu penso em mim mesmo: estou aqui na "pauliceia desvairada", como dizia Mário de Andrade, me tornando um "operário em construção", como cantou Vinícius! Eu sou Tu-que-me-fazes! Como é comovente dizer isto! Como é comovente tornar-se carne o que disse São Paulo "estou cheio de alegria em minha tribulação!" Como me enche de alegria os meus próprios filhos crescerem e me fazerem companhia, até por meio de uma mensagem que li às três da manhã! Como me enche de comoção estar diante da Eucaristia, no Mosteiro de São Bento clamando "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!" Eu sou Tu que me fazes! É o juízo que domina em mim, estes dias! E como são minhas, estes dias, as palavras do padre Aldo, de que este juízo é fruto da graça dessa dor imensa e dessa amizade maravilhosa! Na verdade, mais do que "um operário em contrução", sou "um 'eu' em contrução", porque, de fato, é verdade: é a obra que faz o eu, não é o eu que se expressa na obra! Que descoberta extraordinária: é o trabalho que constroi o meu eu, é o relacionamento com a realidade que me faz, instante após instante, aqui e agora!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma dor imensa e uma beleza maravilhosa

Ontem, 14 de julho,  a França comemorava os 221 anos da Queda da Bastilha. Mas quem quase caiu fui eu, no Shopping Riomar, em Aracaju. Recebi de uma forma totalmente inesperada a notícia de que eu fui demitido. Uma dor imensa me invadiu, um misto de vários sentimentos: humilhação, impotência, frustração. Nem eu mesmo pensei que fosse sentir tanta dor. Era como se uma espada tivesse sido cravada no meu coração, como se tudo o que eu vivi, o que eu passei, fosse de reprente anulado, jogado no lixo, completamente desconsiderado. Me senti literalmente um número, como Clarice Lispector diz na crônica "Você é um número". Pior. Me senti como um copo de plástico descartável, usado e jogado fora. Não tenho vergonha de expressar isso aqui porque foi a mais pura verdade.

Saí quase que correndo para ir chorar no banheiro da praça de alimentação do shopping, porque eu penso que ainda tenho um pouco de dignidade. Antes de chegar, ouço uma voz que me grita: "Dimitri!" Era o meu amigo Camilo, junto com vários amigos de Aracaju, que são o rosto de Cristo para mim em Aracaju. Quando vi a cena, não resisti. Chorei ali mesmo no meio do shopping, cercado de amigos. Cada qual interprete este sinal como quiser, mas pra mim era o abraço concreto de Cristo, que não me deixou cair no vazio, mas estava apoiado nEle. Para mim, foi uma beleza maravilhosa, uma carícia do nazareno. E assim entendo que as coisas difíceis que acontecem em nossa vida não são masoquismo do Mistério, mas são para a maior glória de Deus. Porque ontem estava claríssimo para mim: Cristo ressuscitado, vivo, me abraçando num dos momentos mais difíceis da minha vida.

Depois, ainda tive a companhia de dois amigos de Salvador, que me acompanharam pelo messenger, e um amigo de São Paulo, por telefone.

É impressionante perceber a própria fragilidade, mas mais importante ainda é reconhecer que esta fragilidade é o recurso mais valioso que temos para sermos protagonistas da História, mendigando, pedindo. Porque é verdade realmente que o mendicante é o protagonista da História. Eu nunca me senti tão livre, tão verdadeiro, tão eu mesmo quanto ontem, chorando, no meio da praça de Alimentação, cercado de amigos! 

terça-feira, 13 de julho de 2010

A morte de Eliza e a exigência de justiça

O nome "Eliza" é uma variante do nome "Isabel", ou "Elizabeth", ou ainda "Elise", e significa "aquela que se dedica a Deus". Mas desta vez, Eliza nos lembra outra coisa. O infeliz caso acontecido com Eliza, que se envolveu de forma trágica com Bruno, ex-goleiro do Flamengo é um soco na cara de todos. Para mim, um soco maior foi ver, diante de mim, Cleuza dizendo "estou revoltada com isso! Vamos organizar logo uma manifestação!" Ali eu me dei conta de como eu já estava me acostumando com as coisas terríveis que vêm acontecendo, que a gente logo naturaliza!

Eliza foi uma jovem de 25 anos, que se envolveu com o ex-jogador do Flamengo Bruno, e engravidou do mesmo. Este propôs que ela abortasse. Ela não só teve o filho, como lutava pelo reconhecimento da paternidade. O pai da criança resolveu esta situação sequestrando, prendendo, torturando, matando asfixiada e esquartejando a mãe da criança; e por fim, atirando partes de seu corpo para cães rottweillers comerem. Um crime bárbaro, chocante, humilhante, frio até não poder mais, que revela o índice de violência ao qual estamos submetidos nós, nesta etapa da História.

Bruno é uma síntese do que está acontecendo com muitas pessoas: estão sendo enganadas, pois uma mentalidade dominante afirma que terão os desejos satisfeitos por uma série de coisas que não têm esse poder. Bruno era, nos padrões pós-modernos, um jovem bem-sucedido que teve aquilo que muitos almejam como a sua realização e felicidade máximos: dinheiro, fama, prestígio, mulheres e sexo. Mas é justamente aqui que emerge a pergunta: por que um jovem destes de apenas 25 anos mata outra jovem da mesma idade, com a qual teve um filho, com um requinte de crueldade tão extremo?

Alguns podem, infelizmente, responder ao problema, de forma cínica e simplista, dizendo que ele a "eliminou" porque ela estaria sendo um "problema" para ele. Isto somente em parte é verdade, mas ainda não explica a origem da crueldade, da barbárie e do horror. O que é que está faltando?

A tragédia de Eliza nos ajuda a entender a natureza da nossa falta. O que faltava a Bruno? Este é o ponto de partida, porque Bruno, evidentemente, é uma pessoa extremamente insatisfeita, porque uma pessoa feliz não pratica um ato como estes.

Mas, e o que é que satisfaz o espírito? O de Bruno? E o nosso também? O que fatos como estes comprovam é que o mundo pós-moderno "vende gato por lebre", prometendo os maiores prazeres, e oferecendo, na verdade, as maiores dores. A única saída para tudo isso é o conhecimento da verdadeira natureza do nosso desejo: o que pode satisfazer a nossa exigência de justiça diante de um crime bárbaro destes? Quem vai fazer justiça à Eliza? Porque, se a justiça não for feita a ela, não interessa, ainda não será justiça.

Não há alternativa: ou reconhecemos um "além" no qual a justiça poderá acontecer ou a palavra "justiça" bem que poderia ser tranquilamente riscada do dicionário. E aí é que aparece a tarefa dos cristãos: Cristo se propõe como "o além no aquém". Portanto, a única possibilidade de justiça é Cristo, é reconhecer Cristo. Por isso que o apóstolo Paulo fala de forma tão categórica: "A justiça é a fé!" Não há a mínima possibilidade de justiça sem o reconhecimento do Além que entra no aquém e se faz presente, abrindo espaço para outras possibilidades; possibilidades estas muito mais correspondentes ao coração humano, como o perdão, a misericórdia e a ressurreição.

O que falta, portanto, a estes tempos confusos ao extremo e pós-modernos, é a fé. Mas não uma credulidade que acontece como auto-sugestão, como tantos pregam por aí, o que falta é um reconhecimento verdadeiro por parte da inteligência, da razão, de quem é Cristo, do que Cristo trouxe e traz a este mundo: perdão, misericórdia, ressurreição, novas possibilidades. Cristo vem abrir o círculo fechado pelo mal, vem, como diz São João, "destruir as obras do diabo". As obras do paganismo, da idolatria, da mentira, da morte, do niilismo, do non sense, do desespero; da pós-modernidade, enfim.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Lady Gaga e a cultura da morte


Desde que eu ouvi falar na Lady Gaga pela primeira vez, e mais especialmente após me dar ao trabalho de ler as letras de suas músicas, eu percebi que havia nela algo de muito estranho, mas muito maior do que a mera banalidade, bizarrice ou o culto ao non sense. Na verdade, a Lady Gaga foi um enigma para mim desde que percebi a sua evidente inteligência. Não é à toa que também é ela a compositora de suas próprias músicas. Comecei a me dar conta de que tudo o que ela faz e produz tem marcado, por trás do aparente culto ao absurdo, uma forte inteligência e portanto, um sentido, uma razão de ser para tudo isso. Mas como, na verdade, até pouco tempo, eu praticamente só tinha me limitado a ver o clip da música Poker Face (que é um clip dos mais normais e "ingênuos" da cantora, diga-se de passagem), pouca coisa eu percebi até então.

Tudo começou a mudar quando li uma reportagem na Veja da semana passada falando sobre o novo clip da Lady Gaga, Alejandro, que continha uma blasfêmia, na qual a própria Lady Gaga, desta vez vestida de freira, deitada num caixão, engole um rosário. Ao contrário da música, que é leve, alegre e jovial; o clip Alejandro é terrível, tenebroso e mórbido ao extremo, se constituindo uma das coisas mais abomináveis que eu já pude ver na minha vida. O clip mostra uma religiosa que perde a fé e se transforma numa sacerdotisa pagã, abandonando Deus e procurando divinizar-se a si própria. Neste caso, Alejandro seria Deus. Mas ao mesmo tempo, Alejandro é um gay por quem esta freira se apaixona, "traída" por dois supostos homens, Roberto e Fernando, símbolos da outras duas Pessoas da Trindade, do Deus que a teria "desencantado". O Alejandro gay seria como o Deus com quem ela se desencanta e que não pode satisfazer os desejos que nela suscita. Neste clip, Gaga, que é abertamente militante pró-gay, mostra ainda a relação homoafetiva e homoerótica "oprimida", tanto pela Igreja Católica quanto pelo militarismo, por uma suposta cultura patriarcal e homofóbica.

Mas isso não foi o ápice. O que vi em Alejandro na verdade estava me preparando para a cena pior, que estava por vir. Fui ver o clip Bad Romance, no qual ninguém menos que o demônio aparece explicitamente, representado por um morcego e depois por uma cobra. São cenas terríveis, porque este clip ressalta o desejo de Gaga ter um "bad romance" com a mídia, no qual ela cultua o seu ídolo (explicitamente o demônio), ao qual sacrifica tudo em nome da fama. Sem falar no vídeo Telephone (gravado junto com a cantora americana Beyoncé), no qual defende o assassinato e o lesbianismo. Uma cantora como esta, que lança estas músicas num álbum intitulado Fame Monster (Monstro da Fama) é alguém que, no mínimo suscita interrogações. O monstro da fama é ela mesma, que se vende em nome do sucesso, em nome de 4,72 milhões de seguidores no Twitter, monstro como Michael Jackson e Marilyn Manson.

A quantidade de símbolos satânicos espalhados em todos os vídeoclips da Lady Gaga, o seu visual completamente bizarro (representando a guerra contra a realidade), a sua aberta defesa da androginia e do homossexualismo, aliado a letras extremamente inteligentes (isso foi o que primeiro me chamou a atenção: a inteligência nas letras de uma cantora pop que parecia ser a versão feminina melhorada do Falcão brasileiro), leva-nos a perguntar: quem é esta? Quem é este mais novo produto da mídia global?

Lady Gaga, mais do que expressar a pós-modernidade, expressa a cultura da morte. Ela é a mais pura evidência de que a nossa época é o tempo da negação da vida, da negação da realidade, e portanto, de Deus e de tudo aquilo que é considerado sagrado, de tudo que é considerado absoluto. Lady Gaga representa a era do non sense, da confusão, do desnorteamento, do culto aos demônios e aos ídolos. Tal como era antes do advento de Cristo.

É impressionante, olhando ao nosso redor, e nos dando conta do que é oferecido a nós, perceber a atualidade do que diz o Livro da Sabedoria (Sb 14, 22-29):

"Como se não bastasse terem errado acerca do conhecimento de Deus, embora passando a vida numa longa luta de ignorância, eles dão o nome de paz a um estado tão infeliz (grifo meu). Com efeito, sacrificando seus filhos, celebrando mistérios ocultos, ou entregando-se a orgias desenfreadas de religiões exóticas, eles já não guardam a honestidade nem na vida nem no casamento, mas um faz desaparecer o outro pelo ardil, ou o ultraja pelo adultério. Tudo está numa confusão completa - sangue, homicídio, furto, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento dos benefícios, contaminação das almas, perversão dos sexos, instabilidade das uniões, adultérios e impudicícias - porque o culto de inomináveis ídolos é o começo, a causa e o fim de todo o mal. (Seus adeptos) incitam o prazer até a loucura, ou fazem vaticínios falsos, ou vivem na injustiça, ou, sem escrúpulo, juram falso, porque, confiando em ídolos inanimados, esperam não ser punidos de sua má fé."

Confesso que nada me chocou mais do que ver Lady Gaga associada de forma tão explicitada ao demônio, porque com relação a outros artistas, estes pelo menos tinham a sutileza como sua marca registrada (como Michael Jackson, no clip Thriller, no qual faz referência ao vudu). Aqui, não. A associação com o demônio é tão evidente que é preciso ser muito cego para não notar isso. Um amigo meu me disse que "sentiu vontade de vomitar", vendo esses vídeos. Fico feliz com sua humanidade! Lady Gaga é uma doente, adoradora da morte e do mal, porque não ama a vida e nem a realidade, aquilo que existe. Ama os seus estados mentais, perturbados e confusos, fruto de uma mente inteligente, porém desnorteada, que acha que pode jogar com a realidade a seu bel-prazer. Se não amamos aquilo que existe, será impossível amar aquilo que não existe. Lady Gaga é doente e reflete uma sociedade doente.

Há alguns anos, uma rede italiana produziu uma série intitulada "Padre Pio", sobre a vida do santo de Pietrelcina, morto em 1968. Este santo teve inúmeros combates com o diabo. Padre Pio foi um homem que nunca se conformou com a realidade da morte, e sempre em suas orações pedia pela cura de inumeráveis doentes, muitos deles terminais, alcançando de muitos a cura. Portanto, como era um padre que era contra a morte (tanto física quanto espiritual de seus filhos), um dia o diabo lhe apareceu, como em tantas vezes e lhe disse: "A morte sou eu, você está lutando contra mim!" Eu nunca me esqueci disso quando ouvi, assistindo o filme há mais de um ano. Portanto, ao me dar conta, chocado, da associação da Lady Gaga com o demônio, não tenho como não ter certeza de que ela é o símbolo mais perfeito daquilo que João Paulo 2º tanto denunciou: a cultura da morte! Aquilo que me anima é a certeza de que Cristo já venceu, ressuscitou! Por mais que Lady Gaga contribua para construir a cultura da morte, Cristo ressuscitou, é um fato, é vitorioso, e eu quero estar com Ele!