terça-feira, 23 de janeiro de 2007

O amor dos cães é divino

Milan Kundera em seu belíssimo livro A Insustentável Leveza do Ser trata principalmente da individualidade humana esmagada num país oprimido pela ex-União Soviética, a antiga Tchecoslováquia. 

Ele mostra também como o ser se despedaça na condição de ateísmo que foi imposta pela opressão comunista. E mostra também a realidade dos cães. Ele dedica um capítulo inteiro a Karenin, a cadela de um dos casais protagonistas do livro, e descreve de uma forma comovente, a morte de Karenin, vítima de um câncer na pata. Faz paralelo incrível com a famosa morte da cadela Baleia do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Numa sociedade cada vez mais tecnicizada, laicista, individualista, na qual os vínculos são cada vez mais estilhaçados, o amor dos cães vem recordar a nostalgia original que temos do amor. E fato, escreve Milan Kundera [adaptado]: "O amor dos cães é divino. Eles não sofreram com o pecado original. O amor gratuito deles é um reflexo direto do amor de Deus". 

Depois de tanto horror, os cães nos ajudam a sair de nossas trevas diárias: chamam nossa atenção onde há opressão e fragmentação, e inflamam nosso coração para nossa verdadeira exigência humana: exigência do amor!

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