sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O Carnaval e a Imitation of Life

Estamos no 2º dia de Carnaval (na Bahia) e fiquei impressionado com a violência registrada ontem. Entre outras coisas, um jovem foi ferido com um espetinho de churrasco e deu entrada no HGE. O aumento da violência no Carnaval é mais um sinal do avanço da barbárie. Lembrei então da música que eu gosto muito, a Imitation of Life do R.E.M., porque pra mim, é o hino da pós-modernidade, ou da neo-barbárie. É impressionante a dificuldade que as pessoas têm em conviver hoje. E é falácia a história de que isso se deve ao "capitalismo", ao "imperialismo", "à luta de classes" etc. Tudo isso é fruto da perda da consideração sobre o próprio "eu". Nietzsche, em O Anticristo disse que o "eu" é uma farsa cristã. Pululam hoje inúmeras "psicologias" sem nenhuma base científica falando da "multiplicidade dos 'eus'", na verdade, mais um artifício para destruir a inquietude do coração por descobrir-se único e irrepetível. O escritor Camus disse o significado da vida era a mais urgente das questões, e hoje é justamente isso que se banaliza. A mais urgente das questões se torna na prática, a última das questões. banaliza-se o próprio eu, a própria vida, e de quebra, a vida do outro. Como aceitar e conviver com o outro, se não aceito e não convivo comigo mesmo? A explosão de violência que vem se observando nos últimos anos parte daqui, a negligência do eu é a origem do desnorteamento dos jovens e do cinismo dos adultos na neo-barbárie. A vida, então, se torna imitação da própria. O Carnaval, que bem podia ser espaço de comemoração pelo simples fato de estarmos vivos (que não deveria ser nem um pouco óbvio) se torna mais um espaço de niilismo e de celebração do nada, o que só pode dar em violência, contra si mesmo e contra o outro. O Carnaval se transforma na "adoração do nada", substitui-se a verdadeira vida cotidiana por uma quimera louca e inexistente, bem ao estilo dos cultos orgiásticos pagãos, cuja finalidade era retirar o homem da realidade, dar a ele uma "imitação da vida". A descristianização do Carnaval, que é uma festa cristã (isso mesmo!) e sua paganização e niilização contínua são mais um sintoma de derrocada da civilização e avanço da barbárie.

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