quinta-feira, 10 de abril de 2008

O grito dos oprimidos

Uma das coisas que mais me deixa triste é a miséria, porque a miséria destrói a pessoa humana, em todos os sentidos que possamos imaginar. Fico muito triste, quando diante de algumas afirmações minhas, sou acusado de defender a morte, a pobreza, a miséria e o sofrimento. Simplesmente acho que as propostas que vejo por aí, como as da Revolução Armada ou das novas propostas niilistas, como as cotas, o aborto e a eutanásia, por exemplo, geram mais mal e violência e criam um mundo ainda pior no qual vivemos.
A miséria não se restringe aos despossuídos da riqueza material. A miséria penetra nos relacionamentos mais próximos que possamos imaginar. Quantas pessoas, muitas vezes, morando na mesma casa, apenas se justapõem, mas não são amigas, não põem em comum a si mesmas? Mais do que a miséria material, vivemos uma miséria do humano que é uma coisa tremenda, e que nem de longe podemos imaginar. Um poeta soviético escreveu mais ou menos o seguinte: "se gritam 'homem ao mar', todos imediatamente pulam para salvá-lo, porém se é a alma (o eu, a pessoa) que está se afogando no mar do desespero e do absurdo, absolutamente ninguém se importa em salvá-la".
O grito dos oprimidos não apenas pela miséria material, mas pelo mal (que é o esquecimento do outro) sobe para algum lugar... o próprio Castro Alves gritava aos céus em virtude do tráfico negreiro e da escravidão.
Se há alguém para ouvi-lo, é absolutamente pertinente, se não, vivemos nas raias do absurdo, diante do mistério do mal, que nenhuma contestação ou resistência vai (infelizmente) destruir: o mal sempre se re-organiza, geralmente assumindo formas piores (a história da invasão no Iraque que o diga...)
Se existe Alguém a quem gritar, a justiça pode existir; se esse Alguém não existir, a justiça tem de ser uma palavra riscada do dicionário (como queria Foucault, cumprindo à risca a idéia da novilíngua de Orwell). Habermas não consegue me convencer de uma justiça sem o Mistério: só Ele pode nos salvar desse mal todo que nos assola: o niilismo é só um mergulhar terrível no nosso próprio vômito...

Nenhum comentário: