sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Do que ainda podemos esperar?

Se alguém me perguntar qual é a minha palavra preferida, eu sei responder no ato: é a palavra ESPERANÇA. Eu sou verdadeiramente apaixonado por esta palavra, porque eu já tive uma época em minha vida (2003) na qual eu não esperava nada: dormia sem querer acordar, e acordava querendo dormir, uma sensação horrível. E isso acontecia porque no fundo eu não esperava mais nada da vida, nenhuma novidade. Nem mesmo do acontecimento cristão (a Igreja). Quando a encontrei, em 2001, eu vim de tantos momentos difíceis, de tantas apostas, que eu não me envolvi com ela de forma plena, vivia "justaposto", não conseguia fugir, mas também de fato, o meu eu, o centro da minha pessoa não apostava a vida no encontro que eu tinha feito, 2 anos antes.
Eu tenho uma certa "tara" por livros. Há alguns anos, voltando de uma viagem, cheguei no Aeroporto de Salvador, e comprei seis ou sete, de uma vez. Um dos que eu li é o único livro de poesias de Camilo Pessanha, autor português representante do Simbolismo, morto em 1926, em Macau, antiga colônia portuguesa (hoje pertencente à China), intitulado Clepsidra. Clepsidra é o nome de um antigo relógio de água. Este foi um dos livros mais belos, profundos e tristes que já li. O autor tem plena consciência do que é a vida humana, do nada que a cerca, que a traga, do vazio, do absurdo, da falta de sentido e do desespero que a cerca. Minha vida era uma Clepsidra, uma sucessão de instantes vazios e sem significados, e mais ainda: era como se eu já conhecesse tudo, como se não pudesse esperar mais nada.
Muita coisa aconteceu de lá para cá. O que é evidente em minha vida hoje é a esperança. "Um imprevisto é a nossa única esperança!", diz Luigi Giussani. O imprevisto em minha vida foi dar lugar a uma amizade que eu tinha encontrado e não tinha valorizado até então.
Eu escrevo tudo isso porque estou pensando em Gaza, na Palestina. Há esperança para este mundo? Há esperança para nós? Depois do horror, ainda há esperança? Já li um monte de análises políticas muito boas, mas isso não basta! Falar de amor de forma etérea também não me corresponde. Mandar os terroristas "relaxarem" como Mika faz em Take it easy também não dá. Há esperança de verdade, ou diante do que acontece no mundo eu só posso olhar impassível, jogar pedras ou fazer passeatas, ou pior ainda, me conformar, achando que o mundo não pode ser melhor? Meu coração não se conforma com "gritos mortos de infinito"! O mundo pode ser melhor do que é! Qualquer coisa pode ser melhor do que já é! Quem diz o contrário está contando uma mentira muito grande! Não falo em mundo perfeito, esse sim eu acho impossível, mas quem disse que não podemos tornar o mundo um lugar melhor pra se viver? Quem disse que nós não podemos ser pessoas melhores? Mas mesmo assim, não me conformava! De onde pode vir a esperança ao mundo?
Eu lembrei da minha experiência. Em 2006, eu vivi um momento muito difícil, marcado por muita dor, confusão e revolta. E digamos, "uma quase perda da fé". No fundo, eu sabia que Deus existia, mas eu queria vê-lO, não dava mais para uma fé "infantil". Era tudo ou nada ali. O que me salvou foi que durante quatro meses eu fiquei de joelho diante do Santíssimo Sacramento, dizendo: "Senhor Jesus, tem piedade de mim, que sou pecador". Até que, em novembro, em São Paulo, eu fiz um encontro que mudou a minha vida. Eu fui a São Paulo fazer uma entrevista para seleção do mestrado na Fundação Getúlio Vargas. Uma pessoa que estudou na UFBA me disse que tinha apartamento lá em São Paulo. Eu aceitei e confiei. Uma confiança "irracional". Na véspera da viagem, esta pessoa me disse que não iria poder emprestar o apartamento por uma determinada razão (que depois eu descobri qual era: não existia apartamento nenhum, era mentira pura). Eu disse "está certo", e fui. Eu já tinha um amor à Virgem Maria, e pensei: "Nossa Senhora não vai me deixar na rua". Nem eu sabia que já tinha a fé que achava que tinha perdido. Quando eu cheguei em São Paulo, pensei em quem poderia me acolher, assim, do nada. Só lembrei de uma amiga, Cristiane, de uma obra chamada Ponto Coração. Eles me acolheram dessa forma. Cheguei lá eu encontrei um francês, na época responsável da casa que me disse que eu podia ficar. Arnault é um economista francês que se tornou missionário depois do que viu em Medjugorje (Bósnia-Herzegovina) e hoje é padre na Fazenda do Natal (na Bahia), da mesma obra. Lá também eu encontrei Cristiane, Graziela e a Irmã Maria Laura, também francesa, do Verbo de Vida (Lauro de Freitas). Eu passei cinco dias nessa casa e voltei maravilhado. Fiquei pensando: "Onde é que existem pessoas assim? Quem são essas pessoas? o que existe por trás delas? Quem é que gera isso?" O fato é que eu vi Deus, se é que vocês me entendem. Eu acho que esta foi a primeira vez que a partir de um fato humano, fiz este percurso de forma tão rápida: reconhecer dentro de uma humanidade diversa que correspondia àquilo que eu mais esperava, o Mistério de Deus. Eu sei que a aridez que eu vivi por quatro meses acabou. Deus me respondeu com um fato. Os caminhos dEle são infinitos, mas ali ele me deu a fé.
A significa que dentro da nossa realidade, dentro desse mundo maluco existe uma outra coisa, existe uma outra realidade, diversa e melhor, existe um outro mundo neste mundo, e a mim - pobre ser - foi dada a graça de vê-lo. Voltei decidido a viver a experiência na qual eu vinha me justapondo durante muito tempo, a experiência que havia me sido dada. E hoje eu tenho esperança, essa esperança que é a vida da minha vida, que me faz feliz! Tenho esperança porque Jesus ressuscitou, está vivo e é Ele que gera realidades como essa pelo mundo inteiro. O mundo não está abandonado ao caos do horror, do ódio e da guerra! E nem aos fracassos da política mundial!
A única esperança para o mundo é que realidades que portam essa mentalidade, essa vida - que é o amor, não como apelo etéreo, mas como fato concreto - se dilatem ao máximo. É daí que brota a esperança para o mundo. Pois senão, a única coisa que teremos é o avanço implacável do devir, que faz ontem os judeus vítimas e os faz hoje algozes (da mesma forma que fez os negros antes escravizarem, e depois, serem escravizados). É essa mentalidade que fazia a Irmã Maria Laura, negra e de Guadalupe (território ultramarino da França) não ter ódio de Arnault (branco francês da França Continental). Toda vez que penso na guerra, me lembro deste trecho de Paulo: "Ele - Cristo - é a nossa paz, de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava" (Efésios 2,14). É a única esperança para o mundo. Todo o resto ou é cálculo político-ideológico ou cinismo puro, o que é ainda pior.

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